Se um ano atrás dissessem para a carioca e especialista editorial de linguagens Anna Carolina da Costa Avelheda Bandeira, 30, que ela teria um “parto à jato” e que nem conseguiria chegar ao hospital, de tão rápido que o bebê nasceria, ela simplesmente não iria acreditar. “Fraca para dor”, Anna contou, em entrevista exclusiva para o Mãe aos 40, como foi o momento que seu filho, Arthur, chegou ao mundo no estacionamento do prédio onde ela morava. 10 meses após esse dia, a foto do exato instante que o bebê nasce, registrada pelas lentes da fotógrafa Graziele Pereira, está percorrendo blogs e veículos de todo o mundo. Mais uma grata surpresa para a mãe e a profissional. “Já faz quase um ano que tudo aconteceu, e essas fotos já tinham sido postadas no meu Instagram, inclusive com o relato de parto, mas nunca tiveram essa repercussão”, disse Anna Carolina. “Estou muito emocionada, de verdade. Ter uma foto minha reconhecida assim é muito gratificante, porque estou há sete anos fotografando,” acrescentou a fotógrafa, responsável pelo perfil Um Novo Olhar.
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A mãe do sorridente e brincalhão Arthur, disse que engravidou com 29 anos, e toda a gestação foi muito tranquila, apenas com os “sintomas clássicos” – leia-se enjoos no primeiro trimestre, inchaço nas pernas e cansaço, sobretudo nos últimos meses de gravidez. “Trabalhei até completar 39 semanas. Parei na quarta-feira, 12/06/2019. Era Dia dos Namorados, eu e meu esposo tínhamos completado aniversário de casamento na segunda-feira e, por isso, saímos para lanchar. Eu tinha ido a uma consulta com o obstetra, estava no Centro do Rio, mas precisávamos voltar a Botafogo, onde trabalho, porque tínhamos deixado o carro estacionado lá perto da empresa. Andamos até o metrô do Centro do Rio, depois andamos do metrô de Botafogo até onde estava o carro, cerca de vinte minutos de caminhada, mais ou menos. Lanchamos e voltamos para casa, ainda vim dirigindo, pois meu esposo quis beber, recorda a carioca.
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O plano erra arrumar o quartinho, mas Arthur já estava a caminho
No dia seguinte, Anna amanheceu com algumas cólicas. Ela já tinha entrado em licença-médica, com atestado do obstetra que a acompanhava, porque já não aguentava o cansaço. O plano para aquele dia era aproveitar para terminar de organizar o quartinho dele e as coisas que ela e o companheiro levariam ao hospital. “Às 14h dessa quinta-feira, começaram os pródromos. Estive em contato com a doula e com a enfermeira obstétrica durante todo o dia. À noite, por volta de 18h, tomei um banho morno, imaginando que amenizaria o desconforto que estava sentindo, mas não melhorou muita coisa. Entrei em contato novamente com a doula Roberta Reis , e fiz a seguinte pergunta: “Roberta, se são só pródromos, não era para aliviar após um banho morno”? Sim, era para aliviar, mas não aliviou (e ela já ficou alerta a partir daí!).”
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Anna passoou a noite toda com muita dor, levantando a cada dez minutos, já que ao deitar a dor piorava. No dia seguinte, sem ter dormido nada, tudo o que a carioca sabia dizer ao esposo era: “Se isso é só o começo, não vou aguentar até o final”. O marido, por sua vez, tinha acabado de começar em uma nova empresa e, como Anna achava realmente que “eram só os pródromos”, disse a ele que fosse trabalhar, que ela ficaria bem. “Ele foi, mas, cerca de uma hora depois, sem ele nem ter conseguido chegar, eu já estava pedindo que voltasse… Após falar com a doula e com a enfermeira, tentei comer alguma coisa, mas não consegui, porque me deu ânsia de vômito (só depois soube que isso era um sinal de que já estava em trabalho de parto ativo) e coloquei tudo para fora. Quando elas chegaram, as contrações, que estavam com intervalo de cerca de sete minutos quando acordei, já estavam com intervalo de três minutos (isso, cerca de duas horas após a primeira mensagem)”, relata.
Foi aí que a enfermeira, Amanda Bento perguntou se podia fazer um exame de toque. “Fomos para meu quarto e eu já estava com 7 cm de dilatação, já poderíamos nos deslocar para o hospital, mas meu esposo ainda não tinha chegado do trabalho, então perguntei se era seguro continuarmos esperando e decidimos ficar mais um pouco.”
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Hora do lanche?
Anna tinha avisado à mãe que estava tendo contrações, pedindo para que ela providenciasse algo para Anna comer. Seu pai chegou com a comida e ficou na sala da casa, ouvindo tudo. “Pedi à doula que preparasse um prato com um pouco de frango e purê de batata e comi um pouco. Às 13 hs, a bolsa estourou. Fizemos outro exame de toque e já estava com 8 cm para 9 cm de dilatação. Um tempo depois, meu esposo chegou. Enquanto ele descia com as coisas para o carro, fui tomar banho quente. Passei uns dez a quinze minutos lá dentro, o que ajudou a minimizar a dor que estava sentindo, mas precisei sair porque o disjuntor desarmou… Enquanto me vestia, eu já tinha a impressão de que não daria tempo de chegar, mas minha enfermeira garantia que ele já estava bem baixo, mas que daria tempo, sim. Eu me vesti com a ajuda delas, colocando apenas um vestido, para o caso de ele querer nascer ainda no carro. Descemos pelo elevador, enquanto meu esposo adiantava descendo pela escada, para já tirar o carro e nos esperar em frente ao portão de saída do prédio.”
Três empurrões e meu filho nasceu!
Quando já estavam todos ao lado do carro, já com a porta aberta para entrarem, Anna teve outra contração e gritou para a enfermeira: “Não vai dar, ele está nascendo!” Ela não acreditou, mas veio examinar e, de fato, ele já estava coroando. “Gritei para meu esposo, que estava no carro, esperando entrarmos: “Amor, vem aqui, corre!” Meu maior medo era que ele não presenciasse o momento em que nosso filho nascia. Ele ficou atrás de mim, me amparando, enquanto eu fazia força e Amanda amparava o bebê. Roberta estava por perto também, mas tinha chegado um pouco para o lado, para que meu esposo pudesse ficar comigo, conosco. Em três empurrões, nosso filho nasceu”, lembra.
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Mix de sentimentos
Um misto de sentimentos tomava conta de Anna naqueles instantes: havia preocupação porque estavam distantes do hospital e não contavam com uma equipe de parto domiciliar para socorrer a mãe ou o bebê, em caso de alguma intercorrência. “Estávamos eu e meu esposo, nossa fotógrafa, nossa doula e nossa enfermeira. Amanda, que é enfermeira obstétrica, nos tranquilizou, garantindo que estava tudo bem comigo e com o bebê. E uma felicidade e uma gratidão imensas tomaram conta de mim, por ter conseguido trazer nosso filho ao mundo no tempo dele. Depois veio o alívio, porque, com o nascimento dele, acabavam as dores e as contrações.” Todos seguiram para o hospital, contando ainda com o “bônus” de não estar na hora do rush, logo, não pegaram engarrafamento. Além disso, era um dia de “greve geral”, então as ruas estavam um pouco mais vazias também. “Ele nasceu coradinho, todo enrugado e cheio do vérnix, chorando e mostrando a que veio. No caminho até o hospital, já foi mamando. Eu também estava bem, graças a Deus”, conta a mãe.
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Fraca para a dor?
Anna conta que nunca tinha sequer pensado que isso fosse acontecer com ela, especialmente porque sempre achou que nem resistiria às dores do parto. “Sou fraca para dor (ou era, já não sei… hehehehe). Apesar disso, sempre sonhei com o parto normal, porque tenho pavor de anestesia e de cirurgia (só precisei me submeter a uma, mas, apesar de não ter sido traumática, é uma experiência que não gostaria de vivenciar se não fosse extremamente necessário). No início da gestação, cheguei a conversar com meu esposo sobre parto domiciliar, mas ele não aceitou a ideia, disse que achava muito arriscado. Eu, no fundo, também achava, por isso não levei essa possibilidade adiante”, diz.
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E para as mulheres que têm medo da dor do parto, Anna deixa um recado: “Antes de mais nada, estudem, informem-se. O parto é “natural”, mas nós precisamos conhecer toda a fisionomia envolvida. Depois, confiem e acreditem que são capazes. Como Roberta Reis, nossa doula, sempre me disse: “O parto começa na cabeça”. É lá que precisamos trabalhar a ideia de que conseguimos, de que é possível parir sem intervenções (salvo casos específicos). Por último, encarem seus medos: “Está com medo? Se quer, vá com medo mesmo!” Na maioria das vezes, nossos medos nos imobilizam, nos paralisam, mas, em se tratando de parto, é necessário ir com medo mesmo – a não ser que haja uma contraindicação real”, conclui.
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