Laguna Paron
Família curtindo a paisagem incrível de Laguna Parón, no Peru

Sabe aquelas histórias de aventureiros, que largam tudo (ou melhor: ganham o mundo), com muita emoção, coragem e amor? Pois é exatamente assim a história do Marcos Gadaian (mais conhecido como Marcão) e da Ana Cristina Torres(Cris, como é chamada). Eles carinhosamente toparam dividir suas experiências com a gente. E o que vem a seguir é de tirar o fôlego. Prepare-se para se inspirar! E se quiserem acompanhar esse diário de aventuras, sigam a página do casal no Facebook.
O espírito aventureiro e livre
Desde pequeno sou apaixonado pela natureza e pela liberdade. Minha família é de São Paulo, mas como meu pai é engenheiro, já morei em vários lugares. A vida de nômade começou lá na infância, quando fui morar numa ilha, no Rio de Janeiro, com somente 23 famílias. E o que mais fazia da vida era ser livre: vivia só de cuequinha, caçando sapo, borboletas, vaga lumes, lagartixas, escorregando em morro de grama sobre uma folha de bananeira, pescando peixinhos, brincando na areia, nadando no mar, observando pássaro… Depois voltamos para São Paulo, mas entre idas e vindas, quando estava com 24 anos, após viajar por vários lugares do Brasil, juntei minhas economias e comprei um jipe. Prestei vestibular para faculdade de cinema, mas antes do resultado sair resolvi montar um bar em Arraial D´ajuda (Bahia), que não durou muito. Um dia liguei para minha mãe, que me avisou que eu havia passado na faculdade, mas as aulas já haviam começado há 2 meses. Comecei a trabalhar com cinema e, após uma aventura pelo sertão, todos os anos eu planejava uma nova viagem. Meu objetivo era trabalhar, juntar dinheiro e poder viajar o maior tempo possível. Comecei com férias de 20 dias, depois 30, depois 45 e assim fui aumentando o prazo. Conheci Patagônia, Andes, Amazônia, Pantanal, Sul. Rodei muito pelo Brasil, de ônibus, carona, jipe, e aos 29 anos fui morar em Portugal.

O motor home que agora é casa da família Torres Gadain
O motor home que agora é casa da família Torres Gadaian

A história de amor
De lá fui para outros países, até que retornei para São Paulo, com 32 anos e aos 34 conheci a Cris. Ela ficou sabendo das minhas aventuras e se interessou. Passamos a conversar sempre e, quando eu vi que ela também curtia uma página de Mochileiros no Orkut, pensei: Isso já é 50% de chance de a gente se entender! E começamos a namorar. Nossa primeira viagem juntos foi de mochila para o Parque Nacional do Caparaó. Subimos o Pico da Bandeira. Depois foram várias outras pelo Nordeste, Centro Oeste, Sul, Sudeste. Até que em 2005 fomos fazer um mochilão pela Europa e reencontrei meus amigos de Portugal, que me chamaram para trabalhar outra vez em Lisboa. Tínhamos duas opções: ou iríamos ter que nos separar ou ela viria comigo para Portugal. Depois de algumas conversas e com a aprovação da Dona Nadinha, mãe da Cris, partimos e os planos de dar a volta ao mundo só crescia. Em 2010 retornamos a São Paulo e achamos tudo muito caro. Nós havíamos trabalhado muito em Portugal e tínhamos um dinheiro guardado num banco em Lisboa, mas se ficássemos de bobeira rapidamente o dinheiro iria embora. Foi quando, em seis meses, decidimos comprar um bilhete RTW (Round The World) e partimos para uma volta ao mundo. O bilhete valia por 365 dias, nós fizemos a volta em 364.

Uma parada em Machu Pichu. Vida boa, não?!
Uma parada em Machu Pichu. Vida boa, não?!

Volta ao mundo e a chegada de um filho
Nosso orçamento era baixo, 70US$ por dia, incluindo hospedagem, transporte, comida, taxas, tudo, para nós dois! Rodamos a África negra, Oriente Médio, Ásia, Oceania, Ilhas Pacífico, Estados Unidos. Vimos Baleias, Pinguins, Leões, Girafas, Zebras, Tubarões, Cangurus, Zebras, Elefantes, nadamos em rios, mergulhamos, subimos montanhas, cachoeiras, cavernas, trilhas e mais trilhas, areia, lama, pedra, sorrisos, choros, alegrias, abraços, despedidas. Foi uma experiência muito forte, muito valiosa. Ficar 24 horas por dia, todos os dias, juntos. Ter que viver com pouco: tudo que tínhamos estava em uma mochila e cada vez esta estava mais leve. Retornamos a São Paulo em junho de 2011 e achamos tudo mais caro ainda! Eu tinha medo de não conseguir trabalho, um ano fora do mercado, longe de tudo, sei lá. Fui pedir trabalho e percebi que as pessoas nem queriam saber da minha história de um ano. Elas não tinham tempo para escutar. Mesmo assim, decidimos trabalhar, juntar dinheiro novamente e então fazer outro projeto de um ano. Nesse tempo demos entrada num apartamento na planta, fomos pagando as prestações e ficamos morando com minha sogra por ano até que resolvemos ter um filho. O apartamento ainda não estava pronto, então alugamos uma casa. Caetano veio maravilhosamente bem para este mundo. Nasceu em casa rodeado de carinho e conforto. E todos diziam: “Ah, agora quero ver! Com criança não dá mais para fazer essas viagens malucas. Vão para onde com o bebê, Paquistão?” Apenas deixamos o tempo rolar. Até que decidimos ir de carro visitar meu cunhado que estava morando no Canadá! O apartamento ficou pronto, nós alugamos. Saímos da casa que pagávamos aluguel e fomos novamente para a minha sogra. Começamos a planejar.
Pensamos em ir de mochila, viajando de ônibus, trem, cavalo, carona. Acontece que um bebê já é mais uma mochila e ainda tem que carregar a mochila dele, mais equipamento fotográfico, fica pesado. Nossa primeira ideia era colocar uma barraca sobre o teto de um jipe e seguir para o Canadá, mas por que não ir até o Alasca, então? E fazer a rota Panamericana que vai da Patagônia ao Alasca? Estava decidido.

Visual de tirar o fôlego no Parque Nacional de Huascarán, no Perú
Visual de tirar o fôlego no Parque Nacional de Huascarán, no Peru

O bebê crescia e a rota também!
Viajar pelo Continente Americano não nos parecia algo difícil de se fazer com um bebê, ainda mais com um carro, com mantimentos, mas Cris começou a questionar sobre quando estivesse frio e nevando, como faremos com um bebê novinho? Um jipe não seria suficiente. Entre idas e vindas de ideias, conhecemos uma família que estava vendenda uma coisa que se chama truck camper, e que até então era desconhecida pra nós. Era basicamente uma casa que vai montada sobre uma caminhonete, com suspensão preparada, 4×4. Combinamos de conhecer o carro e, quando viramos a esquina e o vimos, ficamos loucos! Era tudo o que precisávamos. Depois de muita conversa fechamos a compra, tudo com respaldo da Receita Federal e com a ajuda de advogado. Vendemos então, na garagem mesmo, quase tudo o que tínhamos e já estamos a 1 ano na estrada! Passamos pelo Sul do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia Peru e agora estamos no Equador. Aprendemos que não somos donos do nosso tempo, que temos que ser flexíveis, que temos que aceitar os desafios que a natureza nos impõe, que temos que aceitar mais ao invés de questionar. Estamos muito felizes.
Aprendemos a equilibrar nossas economias. Vivemos com a renda do aluguel de nosso apartamento de São Paulo. Se estivéssemos em São Paulo este dinheiro não duraria mais do que uma semana, mas aqui, no meio da natureza, vivendo em uma casinha de 10m2, nos sobra para o mês e às vezes até economizamos. Agora gastamos US$45,00 por dia, incluindo tudo. Percebemos que já não estamos fazendo uma viagem. Isto é a nossa vida.Esta é a nossa casa, uma casa com rodas.

O Vulsão Cabulco no exato momento da erupção, após 42 anos adormecido. Aula de geografia ao vivo para Caetano!
O Vulcão Cabulco no exato momento da erupção, após 42 anos adormecido. Aula de geografia ao vivo para Caetano!

Para sempre na memória
Não há dinheiro que pague visitar a “Isla del Penguinos”, rodeado de leões marinhos, pinguins de sobrancelha amarela, muitas aves, golfinhos patagônicos. Presenciar na nossa frente, o exato momento da explosão do vulcão Calbuco, que estava há 42 anos adormecido em Puerto Varas, Patagônia Chilena! Caetano é uma criança muito empolgada e feliz com tudo que acontece à sua volta, e isso faz nosso dia-a-dia e nossa viagem ser muito mais especial. Claro que dá bastante trabalho viajar com criança. Nosso ritmo de estrada, passeios e tudo mais é outro. Ele ainda é novo para obrigatoriedade escolar, mas tenho absoluta certeza que tudo que ele viu, aprendeu, absorveu, sentiu e viveu apenas nesse 1 ano valeu muito mais, mas muito mais mesmo que qualquer escola. Eu sou fã de conceitos mais livres, acho que no Brasil o padrão básico das escolas é ultrapassado e careta, uma escola diferente, que dá autonomia para as crianças e as incentiva a serem pessoas melhores, são caras e raras, infelizmente. Sem falar q ele já está tendo contato com outras línguas de uma forma natural, já entende e fala algumas coisas em espanhol, inglês e francês. Isso não tem preço! E ele nunca ficou doente, mas quando acontecer, tenho uma farmacinha em casa uma lista da nossa pediatra de como medicar em casos mais urgentes. Além disso, em todo lado tem algum postinho de saúde ou hospital.

Caetano descobrindo novos sabores
Caetano descobrindo novos sabores

Fotos: Marcos Gadaian