Quem já é tentante há algum tempo e começou a pesquisar sobre técnicas, avanços e opções de tratamento, com certeza já se deparou com esse termo e as opiniões controversas até mesmo entre alguns profissionais da saúde. Como é de costume, proponho o entendimento do que é, para que serve e em quais casos há real indicação. Vamos então entender melhor o que é esse procedimento e quais fatos científicos o baseiam?
O que é biopsia embrionária?
Na verdade, a biópsia é a retirada de algumas células de embriões produzidos em laboratório (por FIV). A quantidade de material coletado é bem pouca, de uma região específica de um embrião em fase de blastocisto, e realizada por um embriologista MUITO experiente, com ajuda de equipamentos ultrassofisticados (e caros). Esse material coletado é enviado para a analise genética. Os embriões que passaram pelo procedimento são identificados e congelados para esperar o resultado, que costuma demorar uma semana em média.
Quando se fala em “biópsia”, na realidade nos referimos ao exame genético que será feito na sequencia da retirada das células embrionárias, e há tipos de exames diferentes para o que se deseja saber. Os principais são o PGT-M (sigla do inglês: Preimplantation Genetic Testing for Monogenic disorders) e o PGT-A (Preimplantation Genetic Testing for Aneuploidies)
PGT-M ou PGT-A?
Ambos são testes genéticos para embriões, porém com indicações diferentes. O PGT-M detecta doenças monogenéticas graves ESPECÍFICAS, presentes na família. Doença de Huntington, fibrose cística e hemofilia são alguns exemplos. Assim, apenas embriões que não tenham o gene para a doença em questão serão transferidos para o útero da mãe.
Já o PGT-A é um exame mais amplo, onde se investiga se há aneuploidia, ou seja, alterações cromossômicas que comprometam a viabilidade desses embriões. Por se tratar de uma análise de número e tipos de cromossomos, síndromes como Down e Klinefelter também são detectadas, mas não é esse o objetivo principal.
Pra que fazer um PGT-A?
Sabe-se que a maioria dos abortos em estágio inicial da gravidez acontece por problemas genéticos no embrião. Se o problema é muito grave, não ocorre nem a implantação, essa mulher sequer fica grávida, e esse é o motivo de tantas falhas seguidas de FIV. Trata-se um exame caro (custo aproximado de RS1.500, por embrião), mas realmente efetivo para mulheres com histórico de abortos de repetição (independentemente da idade), ciclos de FIV sem sucesso e aquelas que farão FIV com mais de 37 anos (mesmo que pela primeira vez).
Isso porque estudos mostram essa efetividade com a diminuição drástica no numero de transferências falidas, uma vez que só os geneticamente normais irão para o útero da mulher. Em 2019, foi publicado na revista científica “Human Reproduction” um estudo da Universidade de Harvard que mostra o dobro de nascidos-vivos por transferência, em comparação com mulheres que não fizeram o exame. O número de gravidez pode até ser parecido com o grupo que não testou geneticamente os embriões, mas os abortos são muito maiores nesses casos.
Além do mais, sabendo quais embriões têm chances reais de gerar bebês saudáveis, não há necessidade da transferência de mais de um embrião por vez, diminuindo a chance (e riscos envolvidos) de uma gravidez gemelar, e aumentando a possibilidades de tentativas.
E os riscos?
Alguns profissionais respondem sobre PGT-M quando você pergunta sobre “biopsia de embrião”, porque a pergunta foi sobre a técnica de retirada de material, não sobre o exame. Para as mulheres com indicação para PGT-A (abortos de repetição, idade e falhas de FIVs anteriores), há o risco de não haver embrião saudável para transferência. Mas não é porque a biópsia causou algum dano no embrião, é porque nenhum deles resultariam em gravidez com nascido-vivo. Na verdade, você está se poupando de mais sofrimento. Na maioria das vezes, o numero de euplóides (embriões normais) é bem baixo em relação ao numero total de congelados, mas isso é não é ruim!!!
Imagina se você tem 8 embriões prontos para transferir e desses só 2 ou 3 são normais? Sem o exame, o médico iria transferir “às cegas” e poderia ter um bebê após 6 abortos, por exemplo. Se já se sabe o resultado genético antes, suas chances de ter seu filho com você após uma primeira transferência são enormes.
Lembre-se que não são todas as clínicas que têm embriologistas aptos nem o equipamento específico para realizar a biópsia. Nesses casos, a clinica pode indicar onde realizar o procedimento, ou chamar algum profissional gabaritado para fazê-lo (com custo, claro) ou simplesmente tentar fazer você acreditar que não é algo importante.
Por isso, o cuidado ao escolher a equipe que irá te tratar é importantíssimo! E por isso também, talvez o local onde sua amiga fez tratamento e teve bebê, não necessariamente sirva pro SEU CASO… Tudo depende das indicações e problemas de cada casal. O importante é estar munida de informação de qualidade e tomar suas decisões baseadas nela.
Michelli Montaño, consultora de fertilidade, bióloga geneticista. Membro da European Society of Human Reproduction and Embryology. Mãe da Isabel e Elena. Autora da página Famílias In Vitro, no Instagram