Ter uma profissão, casar, ter filhos: essas eram as etapas que Taciana Carneiro Leão planejou para si mesma. Acontece que a vida não seguiu em linha reta, mas acabou se encaminhando por outros destinos.
Em um período de 11 meses, Taciana sofreu três grandes perdas: o marido, a mãe e a avó. “Perdi minha mãe oito meses após enterrar meu marido […] Também durante esse período, minha avó materna, que morou em nossa casa e nos criou, e que estava acamada há alguns anos, partiu”, conta.
Com as perdas, Taciana ainda enfrentou outra batalha: lidar com o fato de ter que, mesmo sem querer, adiar a maternidade aos 35 anos. Por segurança, ela optou pelo congelamento de óvulos. Após 5 FIV’s sem sucesso e um aborto espontâneo, Taciana viu a esperança da reprodução assistida se esvair.
Mas, como falamos no início, a vida não seguiu de forma linear e encaminhou Taciana à experiências dignas de filme, mas que a levou à realização de seu sonho, ainda que aos 44 anos: ser mãe.
Na linha de frente da batalha
Seu primeiro relacionamento durou, ao todo, sete anos. Sendo que, deste tempo, cinco anos foi de batalha contra o câncer metastático no pulmão que seu marido enfrentava.
“Infelizmente, após um bom combate, o guerreiro descansou. Meu mundo caiu pela primeira vez. Junto com ele, foi embora o meu amor e um plano de família”, relatou Taciana.
No processo de luta contra o câncer, o casal não recebeu orientação médica sobre a possibilidade de congelar espermatozoides, uma vez que o tratamento agressivo que o marido enfrentava oferecia grandes chances de afetar a produção e qualidade dos espermas. Na fase mais crítica do enfretamento da doença, com cirurgia, quimioterapia e medicações pesadas, a fertilidade dele foi totalmente afetada, impossibilitando uma gravidez natural ou por tratamento.
Oito meses após perder o marido, Taciana se despediu da mãe, que também travou a batalha contra o câncer de mama e, pouco tempo depois, perdeu a avó materna. “Ainda de luto e sem nenhum companheiro, tive que encarar um fato doloroso, fiquei viúva aos trinta e cinco anos e teria que tomar uma decisão para resguardar a possibilidade de uma gravidez no futuro”, contou.
Uma nova Taciana
Após esse período de perdas, Taciana decidiu seguir o conselho da família e optou pelo congelamento de óvulos. Apesar de buscar essa “segurança” e congelar sete óvulos, ela ainda se sentia imensamente triste e com um vazio enorme.
A vida continuava e, entre dores e tristezas, ela também experimentava de bênçãos. Mudou de profissão neste período, passando de fonoaudióloga para sócia em uma empresa de serviços e se reinventou por completo. “Não era mais filha, esposa e nem fonoaudióloga! Nascia uma nova Taciana. Deus começou a restaurar minha vida primeiramente pelo trabalho, me realizando totalmente nesta nova função, mas não parou por aí”.
Após três anos viúva, Taciana conheceu seu segundo marido e, com ele, construiu novamente um lar. “Mesmo constatando que não era uma necessidade, porque a vida me mostrou que eu sabia seguir sozinha, e sim um desejo, encontrei outro porto seguro”, conta.
Taciana expos ao marido, que já era pai de uma menina, o seu desejo de ser mãe e recebeu do companheiro todo o apoio. Juntos, deram início à realização deste sonho em Recife. Foram cinco FIV’s, a primeira através da estimulação dos óvulos, porém sem sucesso. Para a segunda tentativa, o médico achou por bem lançar mão dos óvulos congelados, por serem “mais jovens”, porém nenhum estava apto ao tratamento.
Por orientação médica, Taciana e o esposo decidiram seguir o tratamento em São Paulo, onde outras três tentativas aconteceram. Na primeira, veio uma gestação de 8 semanas, seguida de um aborto espontâneo. As outras duas tentativas foram sem sucesso.
Sentindo-se esgotada, Taciana enfrentou o luto, que se refletiu em uma depressão com transtorno de ansiedade. “Sempre digo que Deus nunca me desamparou e me deu forças para olhar para mim, me tratar e buscar um autocuidado”, conta.
Mas a vida, que não costuma seguir padrões, mostrou mais uma vez para Taciana que o mesmo inesperado que traz momentos difíceis, também traz a paz e a calmaria. Em março de 2020, em um momento conturbado com o início da pandemia e com o marido diagnosticado com COVID, Taciana descobriu a gravidez, de cinco semanas, faltando 20 dias para completar 44 anos.
Tão esperada e desejada, Isadora nasceu dia 11 de novembro de 2020, trazendo ao coração e à família de Taciana, um sopro de paz e esperança. “A luta e espera foi grande, mas a graça de Deus me alcançou […] Se me perguntarem, o que eu posso dizer depois de tudo é: olhe para o alto! É de lá que vem o socorro: seja o sim, tão esperado, ou o não”, finaliza.