Ainda na adolescência, a australiana Lauren Cotter foi diagnosticada com útero didelfo, uma malformação uterina que no caso dela, fazia com que tivesse dois úteros, dois colos de útero e duas vaginas. Meses mais tarde, em nome da qualidade de vida, a australiana encarou uma cirurgia para remover a membrana que a deixava com duas vaginas. Por anos, no entanto, ela soube que a malformação poderia a impedir de ter filhos, já que tanto o seu colo do útero quanto o ventre tinham metade do tamanho convencional. O que ela não esperava é que, aos 34 anos, estaria comemorando a maternidade não só de um filho, mas de quatro crianças! Em relato ao site Twinfo, a professora contou que o desejo de ser mãe começou a se realizar há 5 anos, quando engravidou de sua primeira filha, Amelie. Logo depois, contrariando novamente as possibilidades, Lauren gerou um menino, Harvey, 3 anos. E quando já se achava sortuda o suficiente, a vida a presenteou com as gêmeas Maya e Evie, que estão prestes a completar 1 ano e meio.
Se engravidar já seria improvável, engravidar de gêmeas, e gera-las no mesmo útero (o do lado direito). Assim como é comum em casos de mulheres com útero didelfo, todos os filhos que Lauren teve nasceram prematuros. “Como eu poderia carregar dois bebês em um espaço que nem era espaçoso o suficiente para um?”, escreveu a australiana no site Twinfo, dizendo ainda que o seu obstetra não tinha muitas respostas a dar sobre a sua gestação gemelar. “Minha condição é naturalmente muito rara, e os casos de gestações gemelares são ainda mais raros”, disse. Mas o médico foi enfático ao afirmar que se Lauren quisesse levar a gestação o mais adiante possível, ela precisaria de muito repouso. “Uma das poucas certezas que ele tinha era que para ajudar minhas filhas a sobreviverem, era eu precisava descansar, descansar, descansar.”
20 semanas de gravidez e o repouso absoluto
Quando completou pouco mais de 20 semanas de gestação, Lauren passou a sentir fortes cólicas, que a forçaram a repousar ainda mais cedo. “Contratamos uma babá para ajudar com os outros dois filhos e eu rapidamente me adaptei a uma vida que se resumia a assistir Netflix e fazer palavras cruzadas. Cada semana que passava era uma conquista, e a gestação continuava. Quando chegamos na 33ª semana, desacreditávamos que fosse passar daquele momento. Mas, inexplicavelmente, o parto só aconteceu com 37 semanas. Para o meu caso, especialmente com dois bebês, isso foi incrível!”, comemora a mãe. Pela primeira vez durante toda a gravidez, relaxei. Assim como os dois primeiros bebês, as gêmeas nasceram de cesariana.
“Quando ia respirar aliviada, veio uma notícia ruim”
Após o nascimento das meninas, o pediatra informou a família que Evie necessitava de cuidados especiais apenas para aquecê-la um pouco por algumas horas. “Ele me garantiu que a receberíamos de volta naquela noite. E enquanto Evie recebia os cuidados, eu amamentava Maya.” Porém, após algumas radiografias do tórax e veio a terrível notícia: a minha bebê havia nascido com hérnia diafragmática congênita (CDH), o que significava que o intestino dela estava instalado na cavidade torácica, devido a um buraco no diafragma. ” Mais tarde, aprendi com o pediatra que esta é uma das condições mais perigosas com as quais um bebê pode nascer.” Evie foi então entubada rapidamente pelos médicos e levada para a cirurgia, que foi um sucesso. “Hoje sou grata por não saber da gravidade disso naquela época. Os médicos foram incríveis!”, relatou.
Entenda o útero didelfo
Segundo o ginecologista e obstetra Ricardo Luba, especializado em reprodução humana, o útero didelfos é uma malformação que faz com que a mulher nasça com dois úteros. “Existem vários tipos de úteros didelfos, sendo alguns casos com dois úteros inteiros, com dois colos, duas cavidades e a trompa. Nesse caso, elas podem engravidar de qualquer um dos dois úteros, podendo ter até duas vaginas ou um septo completo dividindo um útero do outro”, diz. Existem cirurgias de correção, mas cada caso é um caso. “É necessário avaliar todas as condições, pois há casos em que não há o que fazer. Quando a mulher não consegue engravidar e ela deseja muito gerar um filho, uma das saídas é optar pelo útero de substituição”, diz o especialista.