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Patrícia com a filha, Dominique, de 1 ano

Ser mãe nunca foi meu objetivo número um na vida. Eu tinha vontade, sim, mas não era um sonho, como acontece com muitas mulheres. Desejava ser mãe apenas quando outros objetivos já tivessem sido alcançados. Quando fiz 38 anos, conheci meu atual marido, e numa conversa sobre filhos ele também não demonstrou tanta empolgação. Na época, nosso relacionamento era à distância: ele em São Paulo e eu em Porto Alegre. Nos víamos a cada 15 dias e combinávamos datas que eu não estivesse ovulando, afinal, eu já não tomava anticoncepcional há 6 anos, e não conseguíamos confiar apenas no preservativo. E assim foi o nosso relacionamento durante os dois primeiros anos!

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Só que quando eu estava prestes a completar 40 anos, a vontade de ser mãe começou a despontar com mais intensidade. E resolvi procurar uma ginecologista para fazer os exames e seguir as indicações para engravidar. Infelizmente, foi bem na época que a minha médica, que era maravilhosa e havia sido mãe aos 40 anos, tinha saído do plano de saúde. E eu passei com uma nova, que não poderia ter sido pior! Primeiro ela não pareceu não acreditar que eu tinha 39 anos, com aquela “cara de novinha”. E depois, quando perguntou se eu queria ter filhos e respondi que sim, disse sem rodeios que a minha chance era ZERO!

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Patrícia com a filha, Dominique

Menopausa? Como assim?

Lembro de ter ficado confusa, afinal, meus ciclos ainda eram normais e eu ovulava. E assim, sem fazer exames e nem anamnese, a médica ainda cogitou que eu já estivesse entrando na menopausa! Essa informação foi para o meu inconsciente. E resolvi acreditar… Tanto que, pela primeira vez durante o meu relacionamento, tive relação com meu marido bem quando estava na época de ovular e voltei para Porto Alegre crente que não havia acontecido nada a mais. Só que aí tive o sangramento de nidação (aquele sangramento leve característico da gravidez). Foram só umas gotinhas, mas aliado ao calor que eu estava sentindo a noite, cheguei a pensar que só poderia mesmo ser a entrada na menopausa. Os dias passaram e a menstruação não vinha. Resolvi fazer um teste de farmácia, só para desencargo de consciência. Claro que no fundo, eu pensava que poderia estar grávida. Só que eu estava com diversos sentimentos e até com medo de encarar aquela gestação. Deu positivo. E no outro dia, fiz o Beta Hcg, que confirmou.

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Patrícia e o marido, durante o parto de Dominique

“Pode ser um saco gestacional vazio”

Com o exame de sangue em mãos, retornei à consulta com a médica. E aí veio o fim da picada. Olhando para o meu exame, ela me disse que aquele saco embrionário poderia estar vazio! Não acreditei que estivesse ouvindo aquilo! E ela finalizou: dizendo que mesmo que eu fizesse o ultrassom, com aquelas semanas, eu simplesmente não ouviria o coração do bebê. Ali percebi que o problema estava com ela e não comigo. Nunca mais voltei naquela médica, mas depois descobri que ela havia tido uma experiência de ter perdido bebês, mesmo sendo mais nova que eu. E isso certamente havia contaminado suas consultas e a forma como ela recebia grávidas.

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Patrícia e o marido, durante o parto de Dominique

Me senti culpada por ter engravidado de primeira aos 40 anos

Infelizmente, essa experiência traumática causou um mix de sentimentos em mim. E um deles era a culpa: me sentia culpada por ter quase 40 anos e ter engravidado na primeira tentativa, justamente por saber que outras mulheres, até mais novas que eu, não conseguia. Parecia que eu estava “tirando a oportunidade” de outras mulheres. Hoje vejo que foi uma loucura sentir aquilo. Mas, na época, esse sentimento me acompanhou durante os quatro primeiros meses de gestação. Eu tinha vergonha de dizer que estava grávida. E quando uma mulher de mais ou menos 40 anos me perguntava se havia sido por tratamento de fertilização, eu dizia que sim. Na minha cabeça, eu causaria constrangimento por contar que havia sido tão fácil pra mim. Só me livrei desses pensamentos quando passei com a psiquiatra do meu marido, que era maravilhosa e me fez enxergar as coisas por outra ótica.

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Patrícia, amamentando a filha Dominique

Gravidez tranquila

Toda minha gravidez foi incrivelmente maravilhosa. Eu não inchei, não tive enjoos, não tive diabetes gestacional, nada… Com 10 semanas, estranhei um corrimento mais escuro e sem ter a quem recorrer, acabei cometendo o erro de perguntar para aquela médica, via whatsapp, o que poderia ser. Ela não me respondeu. Então fui correndo para o hospital, com medo que pudesse ser algo pior. Mas não foi nada preocupante. Tempos depois, a tal médica me respondeu dizendo que “nessa idade a gente não pode garantir nada”! Só podia ser perseguição, rs. Também correu tudo bem com meu parto. Consegui ter minha mãe por perto e isso foi incrível pra mim! Eu ria durante a cesárea, e já com minha bebê nos braços, só conseguia sentir muita paz.

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Patrícia, com a filha Dominique

Ser mãe aos 40 anos

Digo sem medo de errar que desde que Dominique, 1 ano, chegou, mudou toda minha vida. Mudei de estado, mudei de estado civil, me casei grávida. Fiz uma mudança de casa aos 9 meses de gestação! E meu paradigma de vida mudou demais. Ela é minha prioridade agora. Sempre penso que graças a Deus que tive ela com 40 anos, porque tenho muito mais maturidade para lidar com ela e direcionar os passos dela, tenho muito mais visão de mundo, conhecimento sobre educação infantil e coisas que anos antes eu não teria tanta bagagem. Eu fiquei grávida e fui estudar para ser mãe porque queria entender o desenvolvimento da criança. O foco da minha vida era meu trabalho, antes eu não teria tanto tempo e nem paciência, e não saberia lidar. E hoje eu tenho mais condições de ajudá- la a se tornar um ser humano melhor. Isso para mim é melhor parte de ser mãe aos 40!

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Patrícia, toda plena e bela durante a gravidez

Depoimento de Patricia Lazzarotto, 41 anos, farmacêutica. Fotos: Arquivo pessoal