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Você já deve ter ouvido que o estresse e a busca pela gravidez de forma desesperada pode atrapalhar o processo. E, de fato, para nós, mulheres, essa relação faz todo sentido. Isso porque temos a quase toda a vida regulada pelos hormônios – diferentemente dos homens, cujos hormônios são produzidos continuamente desde a puberdade até a chamada “andropausa” (onde há queda de testosterona) – os hormônios femininos são secretados ciclicamente, em “ondas”. Para entender melhor como os hormônios influenciam a vida das mulheres, basta pensar no período de um ciclo menstrual e o quanto tudo muda num espaço tão curto de tempo. “Claro que algumas são mais suscetíveis às variações que outras, mas via de regra, você inicia o ciclo bem e cheia de energia, depois fica com a libido nas alturas, seguida de uma fase que o mundo está ali só para te irritar de propósito, e termina chorando quando vai guardar as compras e percebe que tem um ovo quebrado. Você é louca, bipolar, esquizofrênica ou sofre de transtorno de personalidade? Não! Você simplesmente é mulher”, exemplifica a bióloga, geneticista e embriologista Michelli Montaño, membro da European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE), criadora do projeto Famílias In Vitro.

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A relação: hormônios X estresse X fertilidade

Para entender melhor essa relação entre fertilidade, hormônios e o estresse, é preciso saber que os hormônios são produzidos numa cascata de reações químicas. “E são nessas reações que as diferentes glândulas do corpo (hipófise e pituitária), situadas no cérebro sinalizam os ovários para secretar os hormônios femininos que culminam nos eventos da ovulação (fase do ciclo onde geralmente a libido feminina aumenta, uma característica evolutiva para aumentar as chances de fecundação). Quando há exposição a algum trauma importante, a regulação do eixo hipófise-hipotálamo fica comprometida e muitas funções do corpo são afetadas”, conta Michelli. O resultado disso pode ser desde alergias de pele, queda de cabelo, alterações de sono, de apetite, de libido e até de ovulação. E se não há ovulação, a chance de gravidez é zero!

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Todo estresse mexe com a infertilidade?

O estresse que é capaz de interferir na produção hormonal no cérebro e causar impacto na vida da mulher é aquele estresse mais importante, só que essa “importância” é muito subjetiva, já que cada pessoa lida de uma maneira com os problemas. E o que é pequeno para mim, para você pode ser muito estressante. Um exemplo disso? Até aquela promoção no trabalho pode ser encarada com muita alegria ou como uma pressão enorme e extremamente estressante.

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As mulheres que estão com aquela vontade louca de engravidar, tentando há meses e não conseguem, por exemplo, também podem vivenciar esse estresse da pressão por uma gravidez como um fator que dificulta a fertilidade. “Conforme o tempo vai passando, a pressão interna aumenta e, muitas vezes, isso se torna quase que uma obsessão. Obviamente esse é um fator gigantesco de estresse. Cada menstruação que chega, vem acompanhada de uma carga enorme de frustração e planos que escorrem pelo ralo. A sensação de fracasso, de incerteza e de julgamento alheio (ainda que ele não venha, é assim que você se sente), podem levar, inclusive à depressão”, reforça a especialista.

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Relaxa que a gravidez vem?

Michelli conta que com a eliminação do fator de estresse – que nesse caso, é a busca desesperada pela gravidez – o corpo se autorregula para alcançar o equilíbrio: “Estudos mostram que com o passar dos meses, as produções hormonais voltam a níveis normais e as funções do organismo são retomadas como eram antes da exposição ao fator de estresse”, diz a especialista. Na prática, caso não haja algum outro fator físico importante que esteja impedindo a gestação, ela pode acontecer exatamente no momento que a mulher consegue relaxar, levando à normalização das funções que regulam a ovulação. “Quando essa “dança” da sincronia hormonal terminar na liberação de um ovócito maduro, ele encontrar espermatozoides saudáveis na tuba uterina e o útero estiver espessado o suficiente para receber o embrião, a gravidez acontecerá, porque todos esses eventos têm regulação hormonal”, diz.

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Como fazer para conseguir relaxar

Fora a cobrança interna, que já acontece com mulheres na faixa dos 40 anos que querem engravidar, há uma cobrança alheia, que só piora a situação. E nem sempre ela vem nua e crua, muitas vezes, é mascarada: só o fato de perguntar sobre o assunto é um gatilho e tanto para quem está tentando engravidar, sem sucesso. Por isso, quem realmente deseja ajudar uma mulher que está querendo engravidar, pode começar não perguntando sobre o assunto. Se é uma amiga ou pessoa mais chegada, espere que ela toque no assunto. Se não tocar, não pergunte. Dicas, conselhos e relatos também podem piorar a situação, afinal, já há angústias e questionamentos internos.

A única maneira de tirar o foco de uma coisa é focar em outra. “Saia com as amigas para se divertir, passeie mais e distraia sua mente. Vale também se matricular numa aula de yoga, ir correr no parque, meditar, fazer um curso de canto, escalada, pintura… Abra-se às coisas novas e criativas, onde o foco possa ser desviado da “sonhada maternidade”. Se a mulher tentante conseguir se empenhar em outra atividade, as chances de sucesso na busca pela gestação irão aumentam muito nos próximos meses”, conclui a especialista.

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