Faz tempo que quero escrever sobre a importância de pedir ajuda quando nos tornamos mães. Na verdade, essa vontade de falar sobre isso aconteceu quando, após o nascimento da minha filha, me vi precisando de muito mais ajuda do que eu imaginava.
E olha, vou falar uma coisa pra vocês: pedir ajuda pode ser bem mais difícil do que a gente pensa. Especialmente quando, como eu, você sempre foi do tipo que tentou resolver tudo sozinha.
Aliás, esse processo começa quando você se pega lendo seu primeiro livro ou texto de blog sobre a gravidez, a amamentação, as noites mal dormidas. Só que, nesse caso, temos a doce ilusão de que ter lido muito sobre o assunto nos aliviará de ter que pedir ajuda pessoalmente a alguém. Outra ilusão é achar que por sermos independentes e darmos conta de uma porção de coisas no trabalho e na vida, vamos conseguir passar ilesas à chegada de um filho.
Acontece que amamentar a cada 2 horas, acalmar um bebê que chora, trocar a fralda um monte de vezes, ficar com ele embalado no colo por horas cansa à beça. Pior ainda se você estiver com pontos da cesárea ou da episiotomia latejando.
Quando o assunto é a maternidade, a chegada de um filho e o nascimento (ou não) de uma mãe, como bem disse a duquesa de Cambridge, Kate Midleton, em seu discurso que foi amplamente divulgado na imprensa recentemente, “Nada pode realmente prepará-la para você lidar com a pura experiência esmagadora do que significa se tornar uma mãe”. Esse é realmente um processo que vai sendo estruturado dia após dia, com a prática.
Antigamente uma rede de apoio se formava na família da recém mãe. As avós e mães geralmente “se mudavam” para a casa da nova mãe (ou vice-versa) e eram repassados os cuidados e ensinamentos de geração em geração. Atualmente existe um movimento resgatando essa cultura, mas a verdade ainda é outra em boa parte dos lares.
Pedir deveria ser algo natural, mas não é bem assim que funciona
Mas, afinal, porque temos tanta resistência em pedir ajuda? Existem várias respostas, mas vou citar dois pontos que considero mais frequentes e importantes:
Primeiro ponto: Pedir ajuda é um ato de humildade, é preciso despir-se da velha fantasia de super-mulher-faz-tudo e reconhecer que você precisa do outro para resolver alguma questão. Assim, pedir acaba sendo visto por nós mesmas como um sinal de fraqueza, quando na verdade deveria ser encarado como sinônimo de grandeza, já que fomos capazes de reconhecer que juntas somos mais fortes. Que nos tornamos mais humanas e próximas umas das outras ao pedir.
O problema é que a maternidade é tão rodeada de romantismos que preferimos fingir (até mesmo para as pessoas mais próximas e outras mães que estão vivendo o mesmo que nós) que estamos lidando perfeitamente com esse novo papel, “amando cada minuto da maternidade”, como também disse a Duquesa em seu discurso.
A maternidade é sim uma experiência maravilhosa, porém cheia de dúvidas, erros e estresse. E reconhecer isso não é apenas sinal de amadurecimento, mas também uma forma de manter a sua sanidade mental.
Pense no seguinte cenário (e pode ser até que você esteja passando por isso agora): a mulher acaba de sair da maternidade e chega em casa com um bebê nos braços, algo que nunca havia acontecido. Ela está inundada de emoções contraditórias, pois ao mesmo tempo em que há felicidade transbordando, há também muita exaustão, medo, preocupação. E assim, ela percebe que uma nova pessoa passou a habitar seu corpo, sua mente e seus pensamentos. E aquela identidade que a acompanhou durante toda sua existência simplesmente parece ter desaparecido do dia para a noite. Já não existe mais o que “eu quero”, mas sim “o que o bebê precisa que eu faça”. A mulher para de pensar nela mesma como uma pessoa para exercer seu papel de mãe. E conseguir unir novamente a mulher e a mãe não é um processo fácil. Leva meses e, em alguns casos, anos.
Se você está passando por isso, não excite em pedir ajuda. Seja para a mãe, a amiga, a vizinha ou até mesmo a de um terapeuta. Se convença de que você é merecedora de ajuda e não se deixe abalar por revelar isso.
Segundo ponto: Pedir é sinônimo de estar vulnerável e exposto e, claro, o nosso ego simplesmente tem pavor disso. Existem mulheres que precisam provar para si mesmas e para o mundo ao seu redor que são autossuficientes, dão conta de fazer tudo sem precisar da ajuda alheia. Acontece que, muitas vezes, para comprovar este papel, tudo é feito a duras penas, com muito esforço, sugando não só a energia, como também a leveza e alegria da vida dessas mães. A ideia de perfeccionismo pode ser implacável com nós mesmas, de modo que, ao mantermos tal postura, estamos nos tornando nossas piores inimigas, com grandes chances de sermos pessoas amargas. Não se cobre tanto, divida a carga da maternidade com alguém.
Aprendendo a pedir ajuda
Caso você tenha se identificado com as características descritas acima, pense um pouco mais no seu posicionamento e no que pode ser melhorado. Certamente há ao seu redor pessoas muito interessadas em oferecer ajuda, mas que simplesmente não encontram abertura para se oferecerem.
Se você não quer envolver os familiares ou amigos nesse primeiro momento, vale buscar, inclusive, ajuda online. Isso mesmo: existem diversos grupos maternos no Facebook e até mesmo Whatsapp. Contar com a ajuda de alguém que você não conhece pode ser um bom primeiro passo.
Mas, acima de tudo, esteja aberta a mudanças de pensamentos e também de atitudes. Encare cada ajuda como algo positivo, tanto para você quanto para a outra pessoa. Pense no quanto sua mãe, sogra, cunhada, prima ficariam felizes em te ajudar, seja lidando com os afazeres domésticos, ou simplesmente cuidando um pouco do bebê enquanto você toma aquele banho que há tempos não conseguia ou quem sabe dá uma volta com aquela amiga querida, vai ao cinema, lê um livro…enfim! Contando com a ajuda de alguém podemos sempre ir mais longe. Eu que o diga!
Espero que este texto tenha te inspirado e ajude você a se tornar uma pessoa mais leve e feliz. E se quiser conversar, enviar dúvidas ou sugestões, estamos por aqui! Pode deixar um comentário abaixo ou me chamar no privado (pelo e-mail contato@maeaos40.com.br). Será um prazer recebê-la!
There are 2 comments
Amei o texto,tenho 39 anos e a chegada da Alice me deixou bem vulneravel,me sinto sozinha,apesar de ja ter tres filhos uma de 17,um de 15 o Tulio de 12.A Alice esta com 25 dias,eu sintodor de cabeça frequente e não consigo relaxar,dormir parece luxo,eu realmente estou precisando de ajuda.
Olá, Luciana! Fico muito feliz que tenha gostado do texto. Realmente os primeiros meses do bebê são extremamente cansativos para a mãe. Acho que vale uma conversa franca e carinhosa com todos ao seu redor para expor suas necessidades. Às vezes nós não pedimos ajuda como deveria ou até mesmo pensamos que está claro que precisamos de ajuda, mas nem sempre as pessoas conseguem enxergar isso. Desejo tudo de ótimo para você e toda família! Obrigada por nos acompanhar e parabéns pela bebê! Abs. Aline Dini