Quando o assunto é alimentação saudável muitos alimentos são considerados vilões ou mocinhos. Quem não se lembra do ovo? Entre idas e vindas ele era tido como fator de risco para as doenças do coração, devido ao alto nível de colesterol. Atualmente muitos médicos e nutricionistas defendem o seu consumo diário. A verdade é que nessas polêmicas ficamos enlouquecidos e sem saber o que fazer: comer ou não comer?
E como muita gente viu no programa Bem-estar, da Rede Globo, exibido no dia 18/08, o óleo de coco foi tido como vilão e o de canola o mocinho. A nutricionista convidada chegou a dizer que, ao contrário do que se pensava, o de coco não trazia nenhum benefício, pelo contrário. “É rico em gordura saturada, aumenta o colesterol e a inflamação no tecido adiposo. Quem usa óleo de coco para emagrecer, na verdade está fazendo o contrário”, afirmou Ana Maria Lottenberg, na ocasião. O burburinho causado na internet a partir daí foi enorme e confesso que até eu, que cubro as editorias de nutrição e saúde há anos, fiquei com um pé atrás. Já fiz diversas matérias em que as fontes consideravam o óleo de coco um excelente aliado. Mas o foco era sempre o emagrecimento. Por isso, resolvi consultar duas fontes (uma nutricionista e um cardiologista), que são referências em suas áreas de atuação.
Com a palavra, os especialistas
Sobre os benefícios do óleo de coco a nutricionista Vanderli Marchiori, que é vice-presidente da Associação Paulista de Fitoterapia, diz que ele mata fungos e por isso vem sendo bastante utilizado. “Atribui-se a ele tambem o poder de emagrecimento, porém este é um fato discutível, pois não há estudos suficientes comprovando. Mas ele é sim rico em um tipo de gordura saturada, que é o ácido láurico, responsável por favorecer a formação de placas de gordura em artérias e veias. Porém é preciso considerar que as pessoas que já têm níveis elevados de gordura no sangue estão mais suscetíveis à esta questão. Por isso o fato existe, mas não é consenso”, diz.
Para o cardiologista José Antônio F. Ramires, os óleos de coco, dendê e palma, por exemplo, são muito saborosos e ricos em ácidos graxos saturados. “E quando aquecidos e ingeridos aumentam o risco de oxidação de gordura e, consequentemente, de colesterol nos vasos. Já os óleos de canola, milho, girassol, o azeite e outros são, essencialmente de ácidos graxos insaturados e, por isso, quando ingeridos e fervidos não aumentam a saturação para trazer risco de colesterol elevado”, afirmou o médico, que é professor titular de cardiologia do Instituto do Coração, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/FMUSP).
Sobre o fato de a canola ser uma planta geneticamente modificada, criada a partir de outra planta, a nutricionista diz que vê com bons olhos o fato de que no Brasil ela não é uma planta transgênica. “Sem contar que hoje em dia boa parte dos grãos e sementes que comemos sofreram melhoramentos também, inclusive frutas e cereais”, diz.
Para finalizar, Vanderli recomenda usar o azeite extra-virgem para temperos e um bom azeite virgem para cozinhar. “Em segundo lugar, vem o óleo de amendoim , que apresenta as mesmas características de gorduras poli e monoinsaturadas do azeite. Depois sugiro canola, arroz e soja de boa qualidade”, finaliza.
A decisão fica com você. Espero ter ajudado a esclarecer a questão e vale ressaltar que não defendo nenhum tipo de óleo.
Atualizando (02/09): Comunicado oficial
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), em parceira com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), enviou para a imprensa um comunicado oficial que diz o seguinte:
“Considerando que não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de coco leve à perda de peso e que o uso do óleo de coco pode ser deletério para os pacientes devido à sua elevada concentração de ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico, A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde. A SBEM e a ABESO também não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias. O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, é preferível para redução de risco cardiovascular.”