Desde que me entendo por gente sempre quis ser mãe. Prova disso é que até mesmo quando era bem pequena deixava de lado a brincadeira de Barbie (nunca tive uma) para trocar fraldinha e cuidar de bebês. Quando fiquei menstruada pela primeira vez, aos 12 anos, pensei imediatamente: “Uau, quer dizer então que eu posso ter filhos?!” Mas, calma, não engravidei aos 12 anos. Meu filho, Benjamin, chegou aos 37 anos. E, como eu e meu marido estávamos planejando havia alguns meses, não foi exatamente uma surpresa. Descobri verificando o resultado do exame de sangue pela internet – chequei um milhão de vezes os números, comparei com os valores de referência. Ainda assim, tinha dúvidas se isso estava certo. Liguei para o médico e ele confirmou. Mas só cai na real mesmo lá pela sexta semana de gestação, quando comecei a ter enjoos fortes.
Minha gravidez foi tranquila até completar 21 semanas, quando fui fazer o ultrassom de rotina e na hora o médico viu que eu estava com 2,5 cm de dilatação – o que é muito, dado o meu tempo de gestação. A bolsa já estava “escorregando” e havia um risco altíssimo de meu parto ser prematuro. Fui internada às pressas e submetida a uma circlagem, em que o médico costura o colo do útero. Ele disse que era possível que eu tivesse o que chamam de “incompetência istmo cevical”, o que na prática significa que meu colo do útero é mais frágil do que o normal. Isso não tem nada a ver com a idade, pode ser genético ou ter sido provocado em alguma cirurgia anterior.
Para a nossa felicidade descobri a tempo, fiz a tal circlagem de emergência, e fiquei de repouso até o final da gestação. E passados os meses tensos, Benjamin nasceu de 40 semanas num parto normal, sem nenhuma complicação.
De lá pra cá tudo mudou. Costumo dizer que o parto dói porque, naquele momento, a gente morre. Morre mesmo, é um momento em que damos adeus para a vida anterior e começamos ali duas novas vidas: a da mãe e a do bebê. Eu vivo uma nova vida desde que Benjamin nasceu. Primeiro porque todas as minhas prioridades se resumem a ele. Nada pode ser mais importante do que um chamado dele, um choro. O trabalho ficou para segundo plano, os amigos também, a vida social idem. Parece simples, mas isso representa uma baita mudança de rotina. É só pensar que, antes dos filhos, nós éramos responsáveis apenas por nossas vidas: comíamos quando tínhamos fome, vestíamos um casaco quando tínhamos frio. Agora, uma outra vida vem antes de qualquer que seja a sua necessidade. Então, você vai ficar com fome, porque primeiro vai pensar em dar de comer ao seu filho. Se der tempo, você come qualquer coisa (e rápido). Vai passar frio porque vai dar seu casaco a ele. Não vai dar tempo de tomar aquele banho demorado que você adorava (contente-se se der para escovar os dentes 3 vezes ao dia). Não dá nem para falar mais de 5 minutos no telefone). Esta mudança é muito difícil, é preciso estar preparada para ela. É tão barra pesada que consigo entender quem entra em depressão. Com o tempo, a gente se acostuma com a nova vida e vai cavando nosso próprio espaço dentro dela. Mas demora.
Quando eu era mais nova, sinto que não tinha disponibilidade para me doar tanto como agora. Minha prioridade era eu mesma. Minha carreira sugava praticamente 12 horas do meu dia. Eu também queria viajar, sair, dançar, conhecer gente. Ir a shows, conhecer a melhor banda do momento, ver todas as estreias no cinema, conhecer novos restaurantes. Isso é impensável com um bebê a tiracolo. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo – alguém sempre sai perdendo e, na maioria dos casos, este alguém é o bebê, que acaba tendo seus cuidados terceirizados para que a mãe possa curtir a vida. Eu precisei passar por isso para poder, hoje, abrir mão de todas essas coisas sem nenhuma dor de cotovelo. Abro mão tranquilamente de um Rock In Rio em prol de uma noite de sono. Aliás, meu sono é importantíssimo – o resto vem depois. Deixo de ir a lugares, de viajar, de sambar, para brincar com Benjamin. Porque eu sei que ele vai crescer – e logo logo poderei fazer tudo isso de novo, se quiser.
Em contrapartida, as mães mais novas são mais leves. São menos preocupadas, menos desesperadas. Soltam mais as crianças, deixam que elas sejam mais livres, sem ficar com medo de tudo.
Nós, as “quarentonas” já vimos e ouvimos muitas histórias nessa vida e, talvez por conta disso sejamos excessivamente cautelosas. Quando são bebês, conferimos umas 20 vezes por noite se estão mesmo respirando enquanto dormem… Vamos ver se serei assim com meu próximo filho. Será?”
Mariana Sgarioni, 40 anos, jornalista, mãe de Benjamin, de 3 anos.
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Sua história é inspiradora. Tenho 36 anos, já sofri aborto e sou tentante. Obrigada.