relato de partoEstou há dias querendo escrever o relato do meu parto, mas queria fazer isso num momento só meu. Ou melhor: só nosso. Meu e da minha bebê. E agora que estamos a sós aqui em casa, rodeadas pelo silêncio e pela paz que precisava, acredito ser a hora certa de contar pra vocês sobre esse momento tão incrível e que merece ser contado da forma mais verdadeira possível.
Olho para esse serzinho aqui, resmungando no carrinho, onde dorme como um anjo, e fico pensando em como sou privilegiada!

relato de partoContei neste outro post que meu sonho em ter um parto normal havia passado por águas turbulentas após a descoberta da plaquetopenia (plaquetas abaixo do limite mínimo) e a indicação da cesárea, feita por escrito, pela hematologista. Naquele dia sai do consultório dela confusa, mas com uma pontinha de esperança que tudo sairia bem e eu conseguiria o parto normal. No dia seguinte tive uma consulta com a médica que me atendeu (e que foi um anjo em minha vida) e ela confortou eu e meu marido, dizendo que poderíamos ter sim um parto programado sem ter que ir direto para a cesárea. Ela estava se referindo ao parto por indução. Disse que ele era seguro e que faria na sua irmã ou na própria filha, caso estivessem no meu lugar. O que nos deu ainda mais segurança para tentar.
Porém, como não seria ela quem faria o parto, me indicou para o chefe da maternidade em que eu teria o bebê. Fomos conversar com ele, mas diante de uma carta assinada com recomendação de cesárea, ele foi enfático em assinar embaixo. E no mesmo dia já deixou marcada a cesárea para 30 de junho. Sai de lá com um misto de sentimentos, mas já me conformando com o posicionamento da equipe que faria o parto.
Cinco dias antes da data marcada me deu um aperto no peito e passei um WhatsApp para a médica que me acompanhava. Contei pra ela que não queria ir direto para a cesárea e que se ela realmente assegurasse que teria a possibilidade de tentarmos, eu queria tentar. Imediatamente ela entrou em contato com a equipe de parto de um outro hospital e seu colega de profissão também achou seguro fazer a indução. Então, assim seria. Mudança total de planos!
Três dias depois, no dia 28 de junho as 09:00, lá estava eu, com 38 semanas de gravidez, num hospital em que nunca tinha pisado. Não conhecia nada pessoalmente, mas havia lido bons relatos de parto de lá. E contava com a confiança na minha médica e na equipe indicada. Passei por uma consulta e o médico foi enfático em dizer que, apesar de ser um parto de risco, ele tinha tudo para dar certo. Me contou que já haviam feito a indução em pacientes com plaquetas mais baixas que a minha e sem complicações.
E lá fomos nós. Meu marido esteve presente ao meu lado o tempo todo, como o alicerce que segurou minha estrutura. Internei logo após a consulta, e o trabalho de indução, feito com comprimidos intra vaginais, começou as 13 horas. À medida em que o tempo passava as contrações ficavam mais intensas e com espaços menores. Porém, o colo do útero ainda estava grosso e com o tampão intacto. Depois de dois exames de toque dolorosos e seis horas de contração, o colo continuava lá, super espesso e sem bons sinais de evolução para o parto normal. Outro comprimido foi colocado, mais seis horas se passaram, exames de cardiotoco feitos hora a hora e nada. Nada de rompimento do tampão, de dilatação e de bolsa estourada. A essa altura já havia se passado mais de 12 horas e as dores iam só aumentando. O terceiro comprimido foi colocado, porém a evolução não vinha. As contrações chegaram a ter intervalos de apenas 1 minuto e o percentual de dor chegou ao limite. Foi quando a médica me perguntou como eu estava aguentando tão bem.
Sinceramente, ouvi falar tanto da dor do parto normal, que estava muito bem preparada psicologicamente para aguentá-la, e sempre ficava à espera de uma dor mais intensa. Mas, a essa altura, cheguei no limite da dor e confesso que não achei tão insuportável como me contaram que seria. Meu foco estava totalmente na minha filha e os sinais de dor foram encarados por mim como algo bom, o indicativo de que a Heloísa estava chegando.
Mas nada acontecia. 26 horas de tentativa e muitos exames de toque depois, entra o médico no quarto e anuncia que poderíamos tentar mais 12 horas, porém se em tanto tempo eu só estava com 1 centímetro de dilatação, seria bem provável que não houvesse evolução. E não tinha mais como colocar outros comprimidos, pois eles só fariam as contrações ficarem ainda mais próximas, mas sem ter o efeito desejado, que era de afinar o colo do útero.
Com o risco de a bebê entrar em sofrimento por conta das contrações num intervalo muito curto, resolvi que era hora de encarar a cesárea. O almoço havia chegado, mas eu já havia entrado em jejum para encarar a cirurgia.
E aquela mulher forte e guerreira, que eu desconhecia até então, deu lugar a uma mulher insegura e momentaneamente frustrada. Comecei a chorar. De frustração, de não poder ter o parto que eu queria, de ter tanta vontade e não conseguir. Por quê? Nessa hora as palavras do meu marido, que seguia comigo sem dormir e sem arredar o pé, e da médica, me confortaram. Eu não seria menos mãe por ter uma cesariana. Ninguém é menos mãe por isso. Eu havia tentado. Eu tentei muito! Minha filha também se valeu das tentativas, pois nesse processo, estava se preparando para o parto. E era isso o que eu mais temia que não acontecesse numa cesárea: tirar um bebê sem que fosse a sua hora, a sua escolha de nascer.
Fomos para o centro cirúrgico por volta das 15:30 hs do dia 29 de junho. E exatamente as 16:17 hs ouvi o chorinho da minha bebê e vivi o momento mais feliz da minha vida! Sentir aquele cheirinho, ver aqueles bracinhos e perninhas se mexendo, o olhinho tentando se abrir… Ah, essa imagem não vai sair nunca da minha memória e coração. Só quem já passou por isso sabe o quanto é indescritível e maravilhoso o sentimento.
Fiquei na sala de recuperação por alguns minutos após o parto, já com a bebê do meu lado, e depois não desgrudamos mais. A volta da anestesia foi bem desagradável: tive calafrios e uma sensação horrível. Graças a Deus durou pouco e aconteceu bem na hora que meu pai e minha mãe estavam no quarto. A recuperação da cesárea é chata e dolorida nos primeiros dias, mas vai passando e a gente vai se acostumando com as adaptações. Bem, mas isso é assunto para um outro post! O que realmente importa é que estamos bem e saudáveis. Heloísa é uma princesinha e encheu nosso lar de mais amor ainda! Somos papais e vovós babões mesmo!

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