fertilização in vitro

 

Eu não quis ser mãe aos 40. Na verdade, nunca tive certeza se queria ou não ser mãe. Muitas amigas tinham essa vontade desde sempre e eu me perguntava se um dia também a sentiria. Uma coisa eu tinha bem clara: só seria mãe se encontrasse o pai da criança. E só encontrei um parceiro digno de ser pai do meu filho aos 34, quase 35 anos. E foi com quase 36 que decidimos tirar o goleiro do gol, meio que sem compromisso, pra ver no que ia dar.

Três anos se passaram e nada aconteceu. Não nos preocupamos porque a verdade é que nossa rotina estava muito boa sem filhos e não sabíamos se estávamos preparados para abrir mão da liberdade de ir, vir e curtir a vida adoidado.

Mas… os sobrinhos foram chegando, os filhos dos amigos nascendo e o meu prazo de validade se aproximando. Por sugestão de uma amiga médica, decidi consultar um especialista e aí começa o segundo capítulo dessa história, muito mais sofrido que o primeiro. Após dois anos de algumas consultas, uma quantidade absurda de exames, dois tratamentos, um deles com resultado positivo seguido de aborto espontâneo, recebi da Dra. Maria Cecília Erthal o diagnóstico de Trombofilia. Ninguém do meu círculo de amizades ou da minha família tinha alguma noção do que era essa doença.

Pra resumir: trata-se de uma mutação genética (no meu caso na enzima MTHFR), o que gera um risco elevado para doenças cardiovasculares e maus resultados gestacionais como aborto recorrente, pré-eclampsia, e óbito fetal. Em certas populações, chega a 40% o número de pessoas com esta doença! O problema é que a investigação só é recomendada após três abortos. E, para completar, os planos de saúde não cobrem o exame de sangue que detecta a mutação. Ou seja, muita gente tem Trombofilia e nem sabe. E só quem passa por um aborto sabe a dor que é. Imagina esperar o terceiro para começar a investigar o motivo!

De posse deste diagnóstico, por já ter, nesta época, 40 anos, fui orientada pela Dra. Cecília a fazer uma fertilização in vitro seguida de exame genético (cgh), devido ao grande risco de um feto com alteração genética. A partir daí, começariam os três piores meses da minha vida. Vivi uma montanha-russa de sentimentos, embalada por uma dose cavalar de hormônios e cercada de uma ansiedade asfixiante. Não desejo ao meu pior inimigo a espera pelo resultado de um cgh. Dos 14 óvulos, chegamos a um único embrião saudável que foi implantado em um ritual que uniu ciência e, acima de tudo, fé. Sem uma boa dose de fé, confesso, eu teria sucumbido ao tratamento. Não existe garantia, existe estatística. Mas, não estamos falando de uma ciência exata e, mais, estamos lidando com o que há de mais profundo e subjetivo: o amor. Por isso, é tão importante a confiança no seu médico e o suporte que ele dá durante esse período turbulento.

Pra quem chegou até aqui, a boa notícia é que o embrião super selecionado pós-cgh tem muito mais chance de “vingar” e, se estou escrevendo aqui, é porque a história teve um final feliz. Um final feliz com muitos cuidados (hormônios no primeiro trimestre e injeções diárias de anticoagulante até quatro dias antes do parto), mas com a certeza de que tudo valeu a pena.

Hoje, minha filha está com menos de um mês e eu não durmo, mal tenho tempo para comer e cuidar de mim, mas não existe nada comparado ao que eu sinto quando vejo a carinha dela. Não me sinto com 41 anos de jeito nenhum, sinto a vitalidade, a disposição e alegria dos 20. E não descarto a possibilidade de passar por tudo isso de novo!

Ana Paula Brandão, 41 anos, publicitária, Rio de Janeiro

 

FERTILIZAÇÃO IN VITRO gravidez