Simone e Flávio são só alegria com o filho Felipe! Foto: Arquivo pessoal

‘Ser mãe sempre foi um plano presente na minha vida, só que até conhecer o meu atual marido não tinha encontrado alguém com quem me sentisse segura para ter uma família. Foi quando aos 35 anos engravidei pela primeira vez e fui morar com o Flávio, mas para a nossa tristeza tive um aborto espontâneo. A dor foi ainda maior quando a história se repetiu por mais três vezes, sempre com poucas semanas de gravidez e sem um diagnóstico coerente.

Nesse momento me dei conta de que estava perdendo um tempo precioso, já que a idade estava aumentando, e que talvez o plano de Deus para mim fosse outro: adotar uma criança. Contei essa ideia para a minha ginecologista que me incentivou e disse que o período de gravidez é importante, mas o que realmente importa é o filho, essa criança que você passa a amar de uma forma indescritível. Sai do consultório com a decisão fortalecida e simplesmente parei de pensar em ter uma gestação para ter um filho. Meu marido, que sempre gostou de criança e foi apaixonado pelos sobrinhos, me apoiou, mas confesso que no fundo eu tinha medo de que ele ficasse ressentido de não ser um filho natural, então eu evitava falar muito sobre o assunto. E com a cara e a coragem segui em frente com o nosso sonho: fiz o cadastro na Vara da Infância e Juventude da mesma região em que moro, levei toda a papelada solicitada e passamos por um processo de entrevistas com psicólogo e assistente social, além de preencher uma ficha de requisito sobre a criança. Também foi necessário participar de um curso, que nada mais é do que um bate papo esclarecedor com um grupo de optantes a adoção e os coordenadores da Vara da Infância. E se me perguntassem o que eu achei mais difícil em todo o trâmite diria que foi preencher os requisitos, pois me levou a questionamentos profundos como ‘se fosse meu filho natural e nascesse doente eu o rejeitaria? Se for de um tom de pele diferente do meu, eu o amaria menos?’.

Ficamos quatro anos na fila de espera e nesse meio tempo a demora nos desmotivou a ponto de repensarmos a decisão, tanto que eu estava no meio de uma pós-graduação e já tínhamos planejado passar quase um mês viajando pela Europa. No meio de tudo isso, fomos chamados a um abrigo para conhecer o Felipe, um bebê lindo e que de tão bonzinho dormiu no nosso colo. Apesar disso, fomos para casa sem trocar uma palavra e com mil pensamentos em mente, mas ao anoitecer meu marido disse que estava sentindo cheirinho de bebê na roupa, e isso conquistou ainda mais o nosso coração. Voltamos ao abrigo e praticamente com a decisão tomada, fiquei com ele no colo bastante tempo, perguntando se ele queria ser nosso, se queria fazer parte da nossa família e ser nosso bebê. No dia seguinte, confirmamos com a assistente social a intenção de adotá-lo e ela disse que enviaria o caso para o juiz e para a nossa surpresa dois dias depois tivemos a autorização para buscar o nosso bebê. Foi uma loucura, mas mesmo sem ter a casa preparada para um bebê não queríamos mais esperar. Buscamos o Felipe em menos de duas semanas após conhecê-lo, levando somente a chupeta, a roupa do corpo e um pote de papinha! No início havia uma confusão de sentimentos dentro de nós, pois mesmo estando muito felizes em ser pais, tínhamos medo da criação e a dúvida se realmente daríamos conta de tudo o que uma criança precisa. Mas depois percebemos que isso é normal em muitos pais, inclusive os biológicos, e fomos nos adaptando ao Felipe e o amando a cada dia mais. Posso dizer com toda a convicção do mundo que ele é o melhor presente que já tive, muito além de tudo o que eu esperava e imaginava. Desde então nos dedicamos quase que exclusivamente à ele. Deixamos de lado os jantares fora, a noite inteira de sono, os filmes na tv, e o cinema então, nem se fala. Voltei ao trabalho depois de cinco meses e agora me preocupo em sair sempre no horário para ver logo o nosso filho e passo o dia inteiro pensando no que ele está fazendo e na vontade de enchê-lo de beijos e abraços no fim do dia. E hoje sei que ter sido mãe na maturidade me ajudou a tomar decisões mais acertadas e a estar mais preparada para cuidar de um filho. Claro que já não tenho a mesma disposição de alguns anos atrás, mas a plenitude de amor que o Felipe nos trouxe, a vontade de viver e de ser uma pessoa melhor por conta dele não tem dinheiro no mundo que pague!’

Simone Maria Gomes Camelo, 47 anos, mãe de Felipe de dois anos e oito meses. 

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal