Em toda minha existência a única certeza que tinha é que não passaria por esta vida sem a experiência de ser mãe. Sempre foi um sonho e uma certeza para mim. Só não esperava ser mãe logo na primeira tentativa! Nos últimos cinco anos fui amadurecendo a ideia de ter um filho por produção independente e buscando algumas informações sobre como faria. Ao mesmo tempo fui expondo minha vontade para as pessoas mais próximas, o que me ajudou a superar o medo do julgamento, já que recebi muito carinho e apoio. Por isso, quando decidi, já estava emocionalmente e psicologicamente preparada para ser mãe desta forma.

A escolha do médico e a decisão pela produção independente
Claro que, como muita gente, tive várias dúvidas quanto às possibilidades de fazer o procedimento, de que forma seria e qual seria o investimento. Estive em três clínicas para buscar mais informações e escolher em qual faria. Foi aí que entendi alguns detalhes que até então desconhecia. Como a diferença entre inseminação artificial (é feita em casos mais simples, apenas com indutores para ovulação e controle do dia fértil da mulher. O procedimento consiste, basicamente, em introduzir o sêmen coletado diretamente na cavidade uterina, para que a corrida para o óvulo e sua fecundação ocorram naturalmente) e fertilização in vitro (é recomendada para casos mais complexos, quando existe alguma obstrução das trompas, endometriose, entre vários outros aspectos que são avaliados pelos exames solicitados pelo seu médico. Neste caso, a origem da vida se dá fora do corpo da futura mamãe).
O procedimento mais indicado para o meu caso
Após a escolha da clínica, fiz uma bateria de exames para confirmar qual procedimento eu poderia fazer. Foi constatado que meu útero, trompas e tudo mais, estavam perfeitos para uma gestação. O único detalhe apontado pelo médico foi que devido à minha idade, a ovulação estava um pouco baixa (numa escala de 1 a 4 eu estava no nível 2 de ovulação). Então ficou definido que eu não precisaria fazer a FIV e foi recomendado apenas a Inseminação Artificial, com medicamentos para indução da ovulação.

Luciane, no dia do procedimento

Fazendo a IA, a probabilidade de engravidar era de 25%, o que me deixou admirada, pois acreditava ser mais assertivo. Confesso que tive muitas dúvidas se daria certo ou não, pois soube de relatos de mulheres que fizeram algumas vezes e não tiveram sucesso. E isso era o que me deixava mais aflita.
A preocupação com o fato de poder engravidar de mais de 1 bebê
Outra grande preocupação era a possibilidade de virem gêmeos, visto que eu sou gêmea bivitelina e que optei por produção independente, o que dificultaria a criação de mais de um bebê ao mesmo tempo. Conversei com o médico sobre este aspecto, e o mesmo informou que no meu caso, a probabilidade de ter gêmeos seria de aproximadamente 6%.
Então pensei: “é uma probabilidade pequena e não posso deixar de realizar o sonho da minha vida por medo de ter gêmeos. O que for para ser, será”.


É possível escolher as características do doador
Feita a compra/escolha do sêmen, iniciamos o tratamento. Muitas pessoas tem a curiosidade de saber se podemos fazer algum tipo de escolha do sêmen. Sim, podemos escolher algumas características do pai, como cor do cabelo, olhos, profissão, altura, algumas questões de saúde e até a comida preferida do pai (risos).
Fiz o tratamento com os medicamentos indutores e procurei me manter tranquila neste período. O dia da inseminação chegou e foi super tranquilo e emocionante. É um procedimento rápido, sem dor, mas emocionante por sentir que ali estava sendo plantada uma sementinha que mudaria a minha vida para sempre (só não podia imaginar que não viriam quatro vidas para a minha vida).
Surpresa: é mais de um bebê!
Na primeira ecografia no consultório médico, onde fui acompanhada pelo meu irmão Geison, recebi a surpresa. O médico disse que estava tudo bem, mas havia mais dois bebês! Espantada com o que eu tinha acabado de ouvir, disse: Como assim? São três? Sim, eram trigêmeos bivitelinos (placentas diferentes). Fiquei atordoada, sem saber o que pensar. Tremedeira, nervosismo, tudo ao mesmo tempo. Até pensei que pudessem vir gêmeos, mas três era muito para mim.
A fisionomia do médico também foi de muita surpresa. Ele nunca imaginava, afinal, ele trabalha a anos com reprodução humana e sabia que não era comum esse tipo de situação. Eu Meu irmão e eu saímos dali, eu tremendo toda e já no elevador comecei a chorar.
Lembro que do carro liguei para meus pais e minha irmã. Meu pai e minha irmã me acalmaram, pois viram que eu estava muito nervosa com a notícia. Mas minha mãe não conseguiu esconder a preocupação. Ela não conseguia acreditar. Naquele momento, ela que sempre foi a otimista da família, não teve condições de me passar tranquilidade alguma, pois também se preocupava com o risco da gestação.
A partir daí, passei algumas noites em claro, imaginando a loucura que estava acontecendo comigo e como eu daria conta de criar 3 filhos. Com os dias, fui recebendo muito carinho e apoio da minha família (pequena e grande família), inclusive, é claro, da minha mãe, já que o choque havia passado (risos).
Dias depois fui para a segunda eco, imaginando que esta, seria tranquila, pois a maior surpresa eu já havia tido (mal imaginava o quanto estava enganada). Meus pais puderam me acompanhar, pois o pai ainda não havia sido internado para o transplante. Fui firme e forte com eles ao meu lado.
Quadrigêmeos? Meu Deus!!!
Chegamos lá e novamente uma reação de surpresa do médico ao ver minha eco: “Estou vendo mais um saco gestacional aqui”. Meu Deus, o que estava acontecendo?! Não podia ser real. Eram quadrigêmeos?!!!! Mas como?!! Porquê?!! Neste momento fiquei realmente atordoada. Quatro era inimaginável. Impossível dar conta de tantos bebês. E o risco da gestação? Nem raciocinava direito. Só lembro do apoio que recebi dos meus pais naquele momento, que disseram que aconteça o que acontecer, eles estariam do meu lado. Fiquei em choque, literalmente em choque. Chorei muito e pedi para a mãe ligar para meu irmão e avisar o que tinha acontecido, pois eu chegaria em casa e não queria conversar sobre o assunto.
Então, passei exatos dois dias isolada, tentando ordenar meus pensamentos e entender o que estava acontecendo. Não dormia, não conseguia raciocinar, estava chocada. Chorei muito e rezei mais ainda. Até que a minha mente e meu coração foram se acalmando e eu já imaginando os quatro na minha vida.
A aceitação da realidade e a reviravolta de sentimentos
Após dois dias, fui para a praia com meus pais. Precisava ouvir as palavras deles. E lá foi o “divisor de águas”. Depois de conversarmos e eu receber todo apoio e carinho deles, entendi que eu nunca estaria sozinha e que minha família estava disposta a ajudar de todas as formas. Foi lindo!! Uma reviravolta de sentimentos e muita emoção por receber tanto apoio de todos.


Gestação de risco
Devido a gestação de múltiplos ser considerada uma gestação de risco, precisa ser acompanhada pelo obstetra com maior frequência. Preciso tomar medicamentos e vitaminas que numa gestação única não seria necessário. Até a data da baixa hospitalar as consultas eram feitas a cada 15 dias. O controle do colo do útero vem sendo feito desde o segundo trimestre, pois o risco de dilatação prematura é muito alto.
Após 22 semanas precisei ser hospitalizada para fazer a cerclagem (costura do colo do útero), pois já estava com 1cm de dilatação, a partir desta data entrei em repouso absoluto e sigo assim até o final da gestação. No hospital sou examinada pela obstetra diariamente.
Muitas mudanças
As mudanças são muitas, principalmente por serem quadrigêmeos, pois estava preparada e organizada para a gestação única. Estou construindo mais um quarto e um banheiro em casa e precisarei contar com uma rede de apoio para quando eles nascerem. Desde o início do repouso, precisei mobilizar minha família e amigos, para que pudessem dar andamento em todas as pendências que ainda tenho para a chegada dos bebês. E o mais impactante, a Luciane, mulher independente deu lugar a mãe de quadrigêmeos.
Estou com 28 semanas e na gestação de múltiplos não é possível prever uma data para o parto, pois na maioria dos casos os bebês nascem prematuros. Como é necessário segurar os bebês o maior tempo possível dentro da barriga, nossa meta (ousada) é segurá-los até as 34 semanas. Estou esperando um lindo príncipe que se chamará Nicolas e três lindas princesas que se chamarão Antonella, Sofia e Valentina.
Daqui pra frente acredito que o que menos existirá é rotina (risos). Mas procuro sempre resolver o que está a meu alcance, sem pensar muito no amanhã, para evitar stress e ansiedade. A única coisa que tenho certeza é que estes presentes que Deus me deu me farão a mulher e a mãe mais feliz do mundo, rodeada de muito amor e muitas “aventuras”.


Luciane Carvalho, 37 anos, de Porto Alegre (RS). É administradora de empresas e se aventura a escrever uma linda história no blog