Essa é a pergunta de muitas mulheres que me escrevem quando param de usar o anticoncepcional e iniciam as tentativas de gravidez próximas dos 40 anos. Muitas são pegas de surpresa ao descobrirem que nascemos com o número de óvulos já pré-determinado e não há nada que barre o envelhecimento ovariano. Por isso, as chances de engravidar vão reduzindo com o passar da idade. Já outras acreditaram a vida inteira que poderiam engravidar a qualquer momento, bastava interromper a contracepção. Claro que é verdade que enquanto a mulher menstrua há possibilidade de gravidez, mas isso não significa que para todas o caminho será simples assim.
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Vale lembrar que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, ao passar 1 ano de tentativas de gravidez sem que ela aconteça, é dado o diagnóstico de infertilidade. Mas no caso das mulheres que estão próximas aos 40 anos, o ideal é passar a investigar após o sexto mês de tentativas, a fim de ganhar tempo, caso tenha problemas a serem ajustados ao longo do caminho.
E foi pensando em esclarecer as principais dúvidas dessa jornada de tentante (que eu chamo carinhosamente de desejante) que fiz uma live no Instagram com os ginecologistas, obstetras e especialistas em reprodução assistida Dr. Jean Pierre e Dr. Vinicius Medina, ambos diretores do Instituto Verhum. Compartilho aqui os melhores momentos desse papo. E para quem quiser assistir na íntegra, basta clicar aqui.
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O que as mulheres que estão na faixa dos 40 anos e desejam engravidar precisam saber?
Costumamos brincar que as mulheres são como um depósito – elas já nascem com o número de óvulos que vão usar durante toda a vida. Já o homem é fábrica – ao longo de toda a vida a produção espermática vai se renovando. Então, falar sobre idade para a mulher engravidar é importante. Uma mulher de 40 anos pode sim engravidar naturalmente. Muitas engravidam! Mas a conversa aqui é para aquelas que já estão tentando por mais de 6 meses, sem sucesso. De fato, pode ser necessário mais oportunidades para conseguir o positivo, porém, ao mesmo tempo, tempo é ouro quando o assunto é fertilidade. Então é importante definir um prazo e, caso não tenha gravidez em até um ano de tentativas (para mulheres até os 36, 37 anos) ou seis meses (para aquelas na faixa dos 40 anos), é fundamental buscar ajuda de um especialista em fertilidade.
Muitas mulheres relatam que os exames estão todos bons. Mas quais exames são necessários para fazer uma investigação mais detalhada para a fertilidade?
A avaliação da reserva ovariana, basicamente, é feita por meio de dois exames: o ultrassom para a contagem dos folículos antrais, que nos dá uma ideia de como a mulher responderia a um tratamento; e o exame de dosagem do hormônio antimulleriano, que é um exame de sangue, geralmente não coberto pelo plano de saúde, chegando a custar entre 400 e 800 reais, dependendo do estado e do laboratório. É comum que na faixa dos 40 anos a reserva esteja baixa e essa não é uma notícia tão fácil de dar, porém, é fundamental a mulher ter conhecimento de seu potencial fértil. Muitas não admitem de primeira que a sua reserva está baixa e vão procurar outras opiniões médicas até de fato entenderem que, por mais dura que seja a realidade, aquela é a realidade dela. Lembrando que baixa reserva não significa que ela não possa engravidar, mas sim que ela precisará assumir o risco de ficar tentando, sabendo que tempo é fertilidade.
E como deve ser o preparo da gestação aos 40?
Há 30 anos, uma mulher de 28 anos grávida era considerada uma gestante idosa! Essa era a nomenclatura usada em livros e apostilas, e também no vocabulário médico em geral. Isso hoje é impensável. Os conceitos mudam ao longo do tempo. Naquela época era o normal a mulher casar muito cedo e já ter filhos, então, uma mulher perto dos 30 que não tivesse filhos era chamada de gestante idosa. Hoje sabemos que até os 35 anos é uma fase de alta fertilidade e a partir daí, temos uma perda de qualidade dos óvulos. Sabemos que a taxa natural de gravidez ao mês é de 20%, mas que para a mulher de 40 anos, ela é menor. Claro que passando disso, existe também uma necessidade de preparo.
É importante demais que a mulher faça todos os exames para pesquisar o motivo da dificuldade para engravidar, incluindo aí a investigação do parceiro. É o casal que precisa ser investigado porque, muitas vezes, além da questão da reserva ovariana, que normalmente já está menor nessa idade, tem também algum fator masculino associado e isso não pode passar batido. Então, logo no início das tentativas deve-se avaliar a reserva ovariana, as trompas e o espermograma do parceiro.
Falem um pouco sobre o estilo de vida e a fertilidade
Existem alimentos como a cafeína em altas doses, os refrigerantes e os alimentos ultraprocessados, por exemplo. Estudos mostram que eles estão ligados à maior dificuldade para engravidar. Além disso, é preciso ficar atento à atividade física, se exercitando diariamente, mesmo que por 30 minutos. Isso já vai ajudar o organismo como um todo e vai ter impacto positivo também na fertilidade. Os extremos do peso também podem influenciar: tanto o baixo IMC quanto a obesidade podem levar às alterações importantes no organismo e ter impacto na fertilidade. Por isso vemos mulheres muito magra com ciclos irregulares.
Já a obesidade influencia na qualidade dos óvulos e também do endométrio. A mulher obesa, mesmo recebendo óvulos doados, tem um endométrio de menor qualidade e a expressão dos genes no endométrio fica mais prejudicada. Tabagismo e bebida alcoólica também são hábitos que fazem parte do dia a dia de muita gente, mas que são muito prejudiciais ao organismo. A mulher que fuma, por exemplo, tem uma aceleração do envelhecimento de todas as células do corpo, inclusive dos óvulos, podendo até entrar na menopausa mais cedo.
Também é preciso lembrar de cuidar da mente e das emoções. Muitas vezes focamos demais no corpo, mas não somos apenas matéria. É preciso que o emocional esteja em equilíbrio. Autocuidado é fundamental para quem pretende engravidar. Ele anda lado a lado com as terapias que fazemos para melhor a saúde. Então, resumindo: o estilo de vida importa e muito!
E as chances de síndromes? Elas aumentam conforme a idade?
Aos 40 anos, de cada 10 óvulos, 6 têm alterações cromossômicas. E porque ela não engravida ou engravida e tem bebe com síndrome? Por que esses óvulos não fecundam. E se fecundarem, não vão implantar com tanta facilidade. E quando implantam, muitos acabam em abortamentos, por uma seleção natural do organismo. Então, as chances da mulher de 40 ter um bebê sem síndromes é muito maior do que de ter um bebê com síndrome. A Síndrome de Down, por exemplo, numa mulher de 30 anos, terá uma chance para cada 900 mulheres. Na de 40, é em torno de 1 para 100. É uma diferença importante? Sem dúvidas! Mas ainda assim, isso significa 1% de chance. Então, não há motivo para pânico.
Além dos exames que avaliam fertilidade, o que é importante ficar de olho na fase de investigação?
É importante que desde o momento que a mulher resolveu parar a contracepção, ela passe a tomar o ácido fólico ou metilfolato. Existem profissionais que prescrevem também a Coenzima Q10 para tentar melhor a qualidade dos óvulos, mas aí cada médico terá sua conduta e ela deve ser individualizada. O obrigatório, em relação aos suplementos, é o ácido fólico, pois ele previne malformação no fechamento do tubo neural do bebê.
Para mulheres que já passaram por abortos e fizeram curetagem ou AMIU, por exemplo, é importante avaliar, por meio de exames, a cavidade uterina. Pois em alguns casos há sinéquias, que são aquelas aderências no útero, que soltamos com a videohisteroscopia. A também é importante fazer exames para ver como está o coração, se tem diabetes ou pressão alta é preciso investigar e manter o mais saudável possível.
Alterações na tieoride e miomas também são mais frequentes com o passar dos anos e, por isso, é importante de ser investigado. A avaliação da tireoide é importantíssima: TSH 2,5 é um número importante de ser lembrado. Se estiver mais alto que isso, procure um endocrinologista investigar. Porque há maior prevalência de a mulher engravidar e abortar. Sabemos que a baixa qualidade dos óvulos é algo que leva ao abortamento, e por isso que nas mulheres de 40 existem mais casos, mas esse fator endócrino, por exemplo, é um fator evitável. É algo que pode e deve ser tratado na fase de planejamento da gravidez.
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FIV com óvulos próprios X FIV com óvulos doados
A taxa de gravidez tem uma queda importante aos 40 anos, sendo que para muitas mulheres as chances são muito melhores quando é feito o tratamento com óvulos doados. Ainda existe muito tabu com a questão dos óvulos doados, mas é preciso apresentar essa opção aos casais e eles verão se estão preparados para essa possibilidade. É preciso modular as expectativas. E caso a pessoa queira continuar com óvulos próprios, ela sabe de suas reais chances, mas ainda assim deseja assumir os riscos para as chances reduzidas de engravidar.