Toda mulher que passou dos 30 sem filhos, em algum momento já ouviu os “alertas” sobre a queda da fertilidade, “perigo” de síndromes, dificuldade para engravidar, etc. Na verdade, se fala sobre o envelhecimento dos óvulos, que realmente ocorre próximo aos 35 anos. Mas o que isso significa, já que estamos em plenas atividades, no auge de nossas vidas e carreiras nessa idade?
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Para entender o motivo, temos que entender primeiro como cada óvulo é formado, e isso nos remete à vida intrauterina, porque é lá que os ovários em formação começam a produzir os “pré-óvulos”. Quando há gestação de um bebê do sexo feminino, aos 3 meses, aproximadamente, todos os “pré-óvulos” desse feto já estão formados. Ou seja, a divisão celular reducional para a formação de gametas (essa divisão se chama MEIOSE) cessa em uma determinada etapa. Os ovários da bebê ficam “adormecidos” durante toda sua infância, e a divisão é retomada e concluída– sob forte controle hormonal que culmina na ovulação – a partir da puberdade, marcada pela primeira menstruação, chamada de menarca. Se uma menina tem a menarca com 11 anos por exemplo, quer dizer que esse
óvulo liberado no seu primeiro ciclo reprodutivo demorou 11 anos para concluir a meiose. E assim acontece sucessivamente todos os meses durante a vida fértil da mulher.
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A gravidez
Então, quando uma mulher engravida, o óvulo fecundado demorou exatamente a idade dessa mulher para terminar os eventos da divisão celular, e quanto mais tarde, maior a chance dessa divisão apresentar erros genéticos, dificultado o sucesso da gravidez e aumentando as chances de síndromes e abortos espontâneos recorrentes. Esse é motivo da queda na qualidade dos óvulos com o passar dos anos.
E nos homens? É diferente!
Nos homens, os chamados “pré-espermatozoides” são renovados sob estímulo da testosterona, a partir da puberdade. Via de regra, essa produção é contínua e diminui (mas não para) na chamada andropausa, quando há queda na produção desse hormônio masculino. Entretanto, se observa a queda significativa na qualidade seminal em
geral nas ultimas décadas, mas isso se deve ao estilo de vida da atualidade.
Obesidade, estresse, sedentarismo e tabagismo estão entre os principais fatores responsáveis por essa queda exponencial da qualidade do sêmen, mas como há renovação periódica dos gametas masculinos, a maioria desses fatores podem ser reversíveis após alguns meses de mudança radical no estilo de vida.
Michelli Montaño, consultora de fertilidade, bióloga geneticista. Membro da European Society of Human Reproduction and Embryology. Mãe da Isabel e Elena. Autora da página Famílias In Vitro, no Instagram