Sempre fui focada no trabalho. Naquelas listas de resolução de final de ano, com os sonhos a serem realizados, estabelecia metas muito mais profissionais do que pessoais. Acho que eu, inconscientemente, procurava primeiro uma estabilidade financeira antes de ter filhos. Afinal, ter uma família era um sonho, mas tão impossível de realizar que nem considerava. Eu tinha medo que fosse uma responsabilidade muito grande e tinha dúvidas se eu estaria preparada para isso.
Como jornalista, atingi os meus maiores sonhos: ser apresentadora de um telejornal em rede nacional e realizar reportagens internacionais para grandes emissoras. Quando cheguei nesse patamar, comecei a perceber que o meu interesse estava mudando. Passei a querer que a minha missão fosse levar às pessoas soluções e dicas que facilitassem o dia-a-dia delas, informações para melhorar a qualidade de vida.
Acho que foi essa mudança de postura na minha carreira profissional que contribuiu para a maternidade acontecer na minha vida. Como nessa nova fase do trabalho eu entrevistava inúmeros profissionais das mais diversas áreas, conheci mulheres inspiradoras que conciliavam trabalho e filhos, vi que isso também podia acontecer comigo. Ao contrário do que pensava, era possível sim me dedicar a uma carreira e à família sem que uma prejudicasse a outra. Além disso, a maturidade, me fez perceber que perfeição não combina com ser mãe. Poderia ser uma ótima mãe, sempre buscando acertar, mas errando também. Aprendi ao longo da vida que não há uma receita única para o sucesso profissional ou pessoal, o mais importante é ter um propósito, traçar um caminho e ir se adaptando ao que vai acontecendo pela frente. Um exemplo: para a medicina o ideal é que a maternidade ocorra antes dos 35 anos, mas dependendo da saúde dessa mulher (se usa drogas, álcool, fuma), a gravidez pode ser de risco. As estatísticas sempre têm outro lado…
Pode ser que exista uma idade ideal para ser mãe. Mas na vida a gente acaba sendo mãe, não no momento ideal, mas na hora certa, real. No meu caso engravidei depois dos 40 e só tenho a agradecer, sei que para mim, foi na hora certa. Quando cheguei aos 40 não tinha sequer namorado e sentia uma enorme pressão da sociedade, como se dependesse exclusivamente de mim a decisão de ter filhos. Mas não é bem assim. Até porque eu não queria só ter um filho, queria uma família. Ter ao meu lado uma pessoa que compartilhasse essa experiência comigo e combinasse com os meus valores. Ao invés de pensar em estatísticas para engravidar, foquei num parceiro que tivesse os mesmos sonhos que eu.
E não é que ele apareceu? E antes que eu pensasse em qualquer tipo de tratamento me descobri grávida do meu primeiro filho Antonio, aos 42 anos. Dois anos depois nascia o nosso caçula Davi. Conforme as crianças foram crescendo, comecei a perceber que muitas mulheres se sentiam aliviadas quando eu contava a idade que tinha quando engravidei. Por isso resolvi escrever o Blog www.sermaedepoisdos40.com.br. Afinal, se aconteceu comigo, pode acontecer com elas também! Recebo e-mails com depoimentos lindos de mulheres que engravidaram depois dos 40 e outras que sonham com a maternidade. Fico extremamente feliz com esta troca.
Para as mulheres que me perguntam se elas vão conseguir ter filhos depois dos 40 como eu, aconselho que procurem o médico da sua confiança (sempre fui extremamente cuidadosa com a minha saúde), mas acima de tudo digo a elas que “deixem a vida acontecer”. Acredito que “quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo”, como escreve Paulo Coelho no livro O Alquimista. E eu acredito que se esse desejo for bom para você, pode acontecer.
Depoimento da jornalista Adriana de Castro, autora do blog “Ser Mãe Depois dos 40”.