Dia 14 de novembro é intitulado o Dia Mundial do Diabetes. A intenção é reforçar sobre o assunto, que atinge tantas pessoas, porém que, muitas vezes, não recebe a devida atenção. E se você não tem diabetes e mesmo assim está lendo este texto, possivelmente existe alguém na família com a doença. Certo?
Em casa tanto a minha avó paterna quanto minha mãe convivem com a diabetes tipo 2, que é também a mais comum (segundo a Organização Mundial da Saúde, ela representa de 90% a 95% dos casos) e silenciosa, já que não apresenta sintomas no início. Além disso, a diabetes tipo 2 atinge, geralmente, adultos e aparece com mais frequência em pessoas obesas e sedentárias, sendo assim uma doença que está diretamente ligada ao estilo de vida.
Ainda de acordo com a OMS, o número de pessoas vivendo com diabetes quase quadruplicou em 34 anos. Estima-se que 422 milhões de adultos no mundo (8,5% da população) viviam com a doença em 2014. Em 1980, esse número era de 108 milhões (4,7%). Os dados são tão assustadores que a doença é tida pela própria OMS como uma epidemia global. No Brasil, ela atinge 14,3 milhões de brasileiros.
E sabe o que é pior? Que 1 em cada 3 brasileiros nunca sequer mediu a glicemia. E 92% das pessoas que são diabéticas sabem que é importante seguir uma dieta diferenciada e fazer exercícios físicos, porém apenas 36% colocam isso em prática! Esses dados são de uma pesquisa realizada pelo Ibope sob encomenda da Merck (indústria farmacêutica), que ouviu 2.002 pessoas em todos os estados brasileiros.
Causas e efeitos
Vale lembrar que o diabetes é uma doença crônica, resultado da diminuição ou até a não produção de insulina pelo pâncreas, hormônio necessário para utilizar a glicose como fonte de energia. O diabetes também não tem cura e pode causar outras complicações à saúde, entre elas, infarto, derrame cerebral, cegueira e insuficiência nos rins.
Perda de visão
De todos estes problemas, vale ressaltar a perda da visão, que cresce a passos largos. Para se ter uma ideia, entre os anos 1990 e 2010, a quantidade de pessoas com perda de visão parcial ou total devido à doença subiu de 27% para 64%. E mais: enquanto 1 em cada 52 pessoas teve perda de visão em 2010, 1 em cada 39 pessoas ficou cega por causa da retinopatia diabética – desdobramento da doença que danifica a retina.
Apesar disso, uma pesquisa feita em várias capitais brasileiras, conduzida pela Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), em parceria com a Bayer, aponta que quase metade dos brasileiros não sabe que o diabetes pode causar cegueira, sendo que 45% das pessoas que não têm diabetes ou não têm ninguém na família com a doença, desconhecem a relação da doença com a perda da visão, mesmo sendo essa a complicação mais temida.
Outro dado importante é que cerca de um terço das pessoas com diabetes desenvolvem algum grau de dano ocular, e sem o tratamento adequado aumentam as chances de perder mais de duas linhas de visão em menos de dois anos. Mais um motivo para não deixar passar os exames ligados aos olhos. O oftalmologista Arnaldo Furman Bordon, membro da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e diretor do Setor de Saúde Ocular da Sociedade Brasileira de Diabetes, é enfático ao dizer que o diagnóstico precoce do edema macular diabético permite que, em alguns casos, a visão seja recuperada, impactando positivamente na sua vida social.
E foi justamente pensando na relação com a visão que a Bayer desenvolveu um medicamento que acaba de chegar ao mercado. Trata-se do Eylia, aprovado pela ANVISA, e que inibe a formação de novos vasos na retina, além de atuar na inflamação causada pela doença. O medicamento se encaixa na categoria dos antiangiogênicos, ministrado por injeção dentro do olho, permitindo a extensão do tratamento de acordo com os resultados visuais e anatômicos de cada paciente. Os estudos realizados com o medicamento em casos de edema trazem resultados importantes de ganho de visão já com a primeira injeção, sendo que o ganho de visão é mantido por até 3 anos dos estudos. O fabricante também informou que a terapia é indicada para o tratamento de outras quatro doenças vasculares da retina.
Exames importantes são ignorados
Tanto a retinopatia diabética (complicação devido ao excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da retina) quanto o edema macular diabético, ambos causados pelo aumento de açúcar no sangue, levando a alterações nos vasos sanguíneos de todo o corpo, incluindo os vasos do olho, podem causar sérias complicações na visão. No caso do edema há um vazamento de fluído dentro da região central da retina, responsável pela nitidez e foco das imagens. A presença de fluído causa perda severa de visão e pode levar à perda da visão central. Os principais sintomas do problema são: manchas na visão, distorção de imagens, fotofobia, diminuição do contraste e visão de cores, além de alterações no campo de visão.
De acordo com Renato Neves, oftalmologista e diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo, o paciente diabético deve dilatar a pupila todos os anos e se submeter a um exame ocular bastante minucioso. Quando esse controle é feito regularmente, costuma prevenir 95% da perda de visão relacionada à doença. O médico diz ainda que os diabéticos podem apresentar problemas de visão a qualquer momento. “Daí a importância de um acompanhamento oftalmológico frequente. Como o comprometimento da retina pode ser assintomático, sem alterações na qualidade da visão, o exame de fundo de olho é fundamental para detectar pontos e vasos sanguíneos propensos a romper e desencadear hemorragia. O tratamento também inclui o uso de colírios antibióticos durante cerca de trinta dias. Ensaios clínicos demonstram melhora em até 34% da visão central e estabilização da visão em 90% dos casos. Por isso, vem sendo considerado um método altamente eficaz”, conta o médico.
E, mais uma vez, por se tratar de uma doença crônica, é super importante incluir na rotina, além do exame de fundo de olho, os de urina, taxa de glicemia, dos pés e também a avaliação cardiológica. Todos eles devem ser feitos uma vez ao ano.
Cuidados
Você já deve ter ouvido falar que fazer exercícios ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue. E é isso mesmo. Quem assegura é a endocrinologista Monica Reis, do Seconci-SP, que mostra ainda outras dicas para ajudar no diagnóstico e manutenção da qualidade de vida:
Prevenção é o melhor caminho
Como vimos, o diabetes tipo 2 tem como fatores de risco o sedentarismo e a obesidade, estando ligado aos hábitos de vida. Então, por que não prevenir o problema em vez de remedia-lo depois? Para começar vale colocar em prática nem que seja uma caminhada de 30 minutos por dia e rever a alimentação, que deve ser rica em alimentos integrais e pobre em carboidrato e outros açúcares. A nutricionista Cyntia Maureen, consultora da Superbom, empresa alimentícia especializada na fabricação de produtos saudáveis, diz que as opções integrais são importantes agentes na prevenção do diabetes tipo 2 , pois têm baixo índice glicêmico, ou seja, levam mais tempo para transformar o carboidrato em açúcar no organismo, além de serem substitutos saudáveis de alimentos feitos com farinha branca refinada (pães, bolos e biscoitos). “Outro importante aliado na prevenção são os vegetais de coloração verde escura. Eles são ricos em antioxidantes e magnésio, substâncias diretamente responsáveis por baixar os níveis de glicose no sangue. Brócolis, couve agrião, pepino e espinafre são alguns exemplos”, complementa. Soja e aveia também ajudam a prevenir a doença. E até mesmo as frutas merecem atenção, já que algumas são muito açucaradas. Maçã, abacaxi e ameixa são boas opções.
Por outro lado, refrigerantes, frituras, cortes gordurosos da carne animal, embutidos, molhos prontos, alimentos açucarados ou muito doces e os industrializados de forma geral devem ser evitados.
E o açúcar?
Vale lembrar que quanto mais escuro o açúcar, mais nutrientes ele possui, sendo mais recomendados tanto para a prevenção quanto para os já diabéticos. A nutricionista Maria Cristina Câmara, da Hapvida Saúde, explica que o açúcar demerara, por exemplo, passa por um processo de refinamento mais leve que os refinados ou cristais, preservando assim muitos dos nutrientes originais. “Já o mascavo não passa por nenhum tipo de processo na extração nem possui aditivos, preservando todos os nutrientes originais. Outra opção de açúcar é o de coco, que além de preservar os nutrientes, possui antioxidantes, que protegem nossas células de danos”, afirma.
No entanto, a especialista lembra que não importa o tipo de açúcar, desde o mais industrializado ao menos refinado, todos possuem a mesma caloria. “Ser mais saudável não quer dizer que ele tenha menos calorias, significa que ele possui mais nutrientes”, conclui.