Responda uma pergunta simples: você brinca com seus filhos ou deixa-os brincar livremente? Ou melhor: você realmente sabe da importância que o brincar tem para o desenvolvimento do seu filho?
Me peguei fazendo esta mesma pergunta para mim mesma outro dia, quando, em meio à rotina cheia de compromissos, parei para observar minha filha brincar. Em 10 minutos sentadas juntas no tapete, só nós duas, observei tanta coisa bacana, que fiquei de queixo caído! Ela criou novos usos para os objetos e inventou novas formas de brincar com o mesmo brinquedo, inclusive trocando de mãos, se equilibrando…
Não temos tantos brinquedos eletrônicos em casa, primeiro porque acho um absurdo os preços, segundo porque quero que ela use a criatividade para imaginar que o objeto pode ser o que ela bem entender. Assim, o controle da tv vira telefone, a escova de cabelo, microfone, e por aí vai.
E justamente porque estamos na Semana Mundial do Brincar achei pertinente escrever sobre o assunto. Fazendo uma busca na internet encontrei uma pesquisa de 2013, feita pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, que desenvolve ações para promover o desenvolvimento da primeira infância, e fiquei impressionada com o resultado. Somente 19% dos pais brasileiros acham que a brincadeira é importante para o desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos.
Um dos possíveis motivos para isso deve ser porque boa parte de nós simplesmente não têm tempo para brincar com os filhos, e quando isso acontece encaramos apenas como mais uma etapa do dia. E se o dia for corrido, tomar banho, dar comida e botar pra dormir se tornam prioridade. Assim, a brincadeira fica em segundo plano. E mesmo quando ela acontece simplesmente não temos consciência da importância daquele simples gesto de brincar dos nossos filhos.
Mas, se para nós brincar não é tão importante assim, para a criança é tudo o que ela quer, sabe e precisa fazer. Tudo para uma criança é brincadeira! Já reparou como um bebê fica animado quando vê adultos conversando?
Brincar é desenvolver o cérebro
Pode ter uma certeza: enquanto seu filho brinca e cria, o cérebro dele está sendo estimulado, o que significa que tanto as habilidades físicas, emocionais e cognitivas estão sendo desenvolvidas.
E se na nossa (limitada) concepção de aprendizado encaramos os cursos e aulas como mais importantes do que as brincadeiras livres, e lotamos a agenda dos nossos filhos de compromissos (inglês, natação, judô, futebol) estamos lidando com eles com a mesma competitividade do mercado de trabalho, o que pode não ser nada saudável.
Outro ponto importante é que, cansados, muitas vezes encaramos brincar com os filhos algo chato, cansativo e quase uma obrigação. Mas, na real, se não tiver prazer nisso, de nada vale fazer só por obrigação, contando os minutos para a brincadeira acabar.
Criança saudável corre, brinca e faz “bagunça”
Para a psicanalista Tania Possani, fundadora da escola infantil Casa do Meio, em Jundiaí (SP), a única expectativa que se deve ter em relação à criança é que ela brinque. “E a criança, quando brinca, o faz com todos os sentidos e com todo corpo. Ela pula, corre, rola, o corpo vibra em compasso com o mundo imaginário” Telma acompanha o desenvolvimento de crianças de um a cinco anos de idade, e diz reconhecer muitas fases de recusa: para comer, dificuldade de dormir, mudanças de humor e interesses, fases mais sensíveis de choro e de birra, e tantas outras dificuldades. Mas o que considera realmente preocupante e grave do ponto de vista do desenvolvimento integral das crianças é a incapacidade de brincar. “O ser humano acontece na área do brincar. O primeiro campo de comunicação é o brincar e é só nesse campo de coexistências entre mundo interno e mundo externo, entre subjetividade e objetividade que a criança pode exercitar e se apropriar de tudo o que nos faz humanos. E mesmo adultos nunca deixamos de habitar a área do brincar. Apenas sofisticamos essa ação. A linguagem verbal, escrita, artística, toda cultura são formas adultas do brincar”, explica a especialista.
Com toda essa informação em mente, permita-se também se desenvolver ao brincar livremente com seu filho. Sem cobranças, sem pretensões. Apenas deixando a imaginação se tornar um caminho pelo qual sua família estará percorrendo junta. Acredite: vale a pena!
Imagens: A Casa do Meio