Dar o colo é dar conforto, calor, amor, alívio, contenção, acalento, tranquilidade, segurança, calor humano. É conseguir ouvir de perto o coração da mamãe. É pele a pele. Durante a gestação há uma unidade mãe-bebê, que é psicológica e até fisiológica, pois eles estão conectados. No nascimento, momento em que o cordão umbilical é cortado, a unidade fisiológica também é separada, temos uma mãe e um bebê não mais fisicamente unidos. De início, o bebê não se percebe como um ser único, separado do seu ambiente e pessoas, é como se ele entendesse que ele e o mundo externo são as mesmas coisas, há uma fase de não diferenciação entre eu-outro (outro = mundo externo, ambiente, mãe, bebê…), há uma fantasia inicial de onipotência, como se ele conseguisse por ele mesmo resolver todos seus probleminhas, tendo a ilusão de que os objetos (seio, mamadeira, cobertor) são criados por ele: “cada vez que eu choro, meu desconforto (fome, dor, frio, calor) vai embora.”, assim, é só eu desejar e precisar, que o objeto aparece para mim.
Impor limites: só depois que o bebê já tiver alguma independência
Do ponto de vista psicológico, nessa fase, que é muito forte até, mais ou menos, 6 meses, o bebê deve sim ter todas suas necessidades satisfeitas e o ambiente (papai e mamãe) deve facilitar e permitir essa fantasia mágica de onipotência do bebê de que seus desconfortos são rapidamente sanados. Ou seja, essa não é a fase de frustrar o bebê e querer ensinar limites e sim a fase de dar e abusar do colo. Essa é uma fase em que o bebê encontra-se num estado de dependência absoluta, isto é, o bebê não tem como sobreviver sem os cuidados de outras pessoas. No entanto, ele não reconhece isso, pois como falamos, ele ainda acha que o mundo e ele são as mesmas coisas.
Sendo assim, a ideia de que o colo pode mimar ou estragar o bebê não é verdadeira, ainda mais nesse início de vida. O bebê chora porque tem desconfortos e necessidades e porque não sabe se comunicar de outra forma. Hoje, sabe-se que o toque afetuoso é sim uma das necessidades para o desenvolvimento saudável da criança, tanto quando outras necessidades básicas como comer, respirar e dormir. Por isso, sempre dizemos que o colo é tão importante quanto a amamentação, pois é nesse momento que ele também vivencia um ambiente seguro que lhe permite um bom desenvolvimento.
Mais que um simples colinho
Não é qualquer colo que o bebê precisa, é o colo que transmita aconchego, segurança e amor, que comunique ao bebê que ele é aceito, amado, bem-vindo na família e desejado. E é isso que dará uma boa base de formação de personalidade e saúde emocional. Aliado ao colo, vem outras formas de comunicar esse amor, como o tom de voz, o olhar afetuoso, o toque carinhoso e o balançar reconfortante que por isso, não raro, consegue fazer o bebê parar de chorar quando ninado nos braços. Conforme o bebê for crescendo, desenvolvendo sua independência, conhecendo o mundinho e os novos objetos a procura do colo tende a ir ficando melhor, o que não significa que a criança e até mesmo os adultos busquem um colinho para dar conforto, principalmente quando não nos sentimos bem.
O problema, algumas vezes do colo é quando ele está ocupando uma outra função, como por exemplo, quando a mãe tem muita dificuldade e medo em deixar o bebê tornar- se independente dela, criando, mesmo que sem perceber, situações para que o filho seja cada vez mais dependente dela, com dificuldade de ir para o mundo. Também percebemos que acontece muito do casal estar vivenciando um problema conjugal sério e a criança e o colo ocuparem um lugar no meio dos dois, de afastar o casal, tirando assim o foco da questão no relacionamento e levando o foco para o bebê. De toda forma, nestes dois exemplos não foi o colo o problema, mas sim a dinâmica e as relações estabelecidas.
O colo e o toque afetuoso pele a pele são tão importante que hoje tem-se o método canguru, usado como forma terapêutica dentro de UTIs neo-natal; O sling também é muito conhecido hoje no mundo materno. Eles promovem aproximação mãe-bebê, colaboram para o fortalecimento do vínculo e permitem ao bebê vivenciar e internalizar a segurança e proteção.
Luciana Romano e Raquel Benazzi são psicólogas formadas pela Universidade Mackenzie, e integram o Núcleo Corujas. Elas têm experiência no trabalho com gestantes, psicoterapia de luto e trabalho de defesa da mulher.