As Perennials (Foto:Sergio Luiz Castro/Instagram)

Se você cultiva um estilo de vida que harmoniza hábitos e gostos de diversas idades, pode se considerar uma Perennial, um movimento – ou geração de pessoas – que não se baseia em noção cronológica, mas em identidade social. O termo foi criado em 2016 pela publicitária americana, Gina Pell, em um artigo que rapidamente foi compartilhado em jornais e revistas do mundo todo. Desde então, cada vez mais mulheres se identificam com as características acima. Segundo especialistas, quem puxa essa fila são justamente as mulheres acima dos 40 anos.

A liberdade de não se rotular pela idade é estimulada justamente pela autoconfiança e maturidade, quando a aprovação dos outros já não é importante para a tomada de decisões ou mudanças de comportamento. São aquelas mulheres cheias de atitude, donas de si, que estão antenadas com moda, cultura e tecnologia, mas que não se tornam escravas delas.

+ Aos 41 anos, depois de 6 abortos, finalmente vou realizar meu sonho de ser mãe

Essa tendência de lifestyle, chamada por alguns de ageless (“sem idade”) está se tornando cada vez mais comum no Brasil e no mundo. Em 2017 uma produtora de Londes, na Inglaterra, especializada em criar conteúdo para mulheres mostrou que o antigo conceito de ‘mia idade” está cada vez mais ultrapassado. Das mais de 500 mulheres com mais de 40 anos ouvidas pela produtora SuperHuman, dois terços delas (mais de 300 mulheres) disseram estar no auge da vida. 67% disseram estar muito mais confiantes que há uma década, e apenas 16% disse se definir pela idade.

No Brasil, um grupo de mulheres vêm chamando a atenção nas redes sociais por divulgar esse movimento. São “As Perennials”, formado por quatro mulheres muito inspiradoras e cheias de atitude. Em entrevista ao Mãe aos 40, Cris Guerra, 49, Daniella Zupo, 47, Fernanda Ribeiro, 46, e Natália Dornellas, 43, contam que a ideia de falar sobre o assunto surgiu da vontade de falar para mulheres sensacionais e pouco valorizadas no mercado. “As Perennials é um podcast feito por mulheres que já se conheciam e se admiravam, entre os 40 e os 50, que não se encaixam nos clichês de suas idades. A ideia é compartilhar opiniões, receios, dúvidas e reflexões sobre a maturidade com outras mulheres – e também homens – espalhados pelos quatro cantos do país.” Apesar de Natália, Fernanda e Daniella serem jornalistas (apenas Cris é publicitária), a equipe não tem a pretensão de falar com o público de forma didática ou jornalística. “Queremos uma conversa divertida, para nós mesmas e para quem nos ouve”, comentam.

Quando questionadas se uma mulher de 40 anos pode se considerar uma Perennial, elas respondem que sim. Mas, como é justamente a dissociação entre idade e comportamento que dá o tom das Perennials, o grupo diz que nada impede uma mulher de 20 ou de 80 anos se considerar desse movimento. “Não tem a ver com a idade, e sim com uma não dependência dela no que diz respeito à forma de encarar a vida”, afirmam.

+ Após 3 fertilizações sem sucesso, engravidei normalmente de gêmeas aos 44 anos

As Perennials (Foto: Barbara Dutra/Instagram)

“Não se fazem mais quarentonas, como antigamente”

Essa é a frase que está na descrição do perfil que As Perennials têm no Instagram. E elas explicam: “A mulher de quarenta de antigamente era considerada uma velha, acabada para a vida. Nós somos a prova mais do que viva que isso mudou completamente, em todos os sentidos. A quarentona hoje é uma mulher que sabe viver, que quer viver, que está no seu auge intelectual, e não quer mais ser tratada como velha.”

Para elas, o maior bônus de ter passado dos 40 é a sabedoria, que só vem mesmo com o tempo. “Por isso a gente acaba não dando tanta importância às coisas que ele tira, como por exemplo, o tônus da pele, os cabelos coloridos… O ônus é justamente lidar com as tais coisas que o tempo tira, mas com maturidade a gente transforma celulite em identidade e percalços em grandes aprendizados.

Que meia idade, que nada!

Com o empoderamento das mulheres, o autoconhecimento e autoconfiança, o tão usado e conhecido termo “meia idade” passa a fazer cada vez menos sentido.  “Acho que “meia idade” só faz sentido como uma terminologia para divisão de faixas etárias que interessem nas análises sociológicas e para construção de políticas públicas.  Já “melhor idade” me parece um termo até hipócrita numa sociedade que não valoriza seus idosos e ainda enaltece a juventude como um padrão de beleza. Pessoalmente, acho que velhice é uma idade que pode ser boa e bonita como outra qualquer, se tivermos condições de vivê-la com respeito e plenitude. Aliás, não existe “melhor idade”, a melhor idade é aquela que temos no momento”, reflete Daniella Zupo.

As Perennials pontuam ainda que atualmente, a mulher de 40 está se reinventando, sendo que muitas investem em importantes recomeços: um novo trabalho,  um novo relacionamento, uma nova profissão… “Por isso dizemos que “Já não se fazem mais quarentonas como antigamente.””

Reprodução Instagram

Mudança de rumos após os 40

Essa maturidade, que é mais notável após os 40, também é motivadora de reflexões sobre a vida e o que pode ser modificado, quando é hora de dar uma pausa ou mudar o rumo. “A minha vida, em particular, mudou completamente depois dos 40. Com 42 anos, recebi o diagnóstico de câncer. Foi bem no momento que eu me sentia no “auge da carreira”, trabalhando numa emissora de TV , completamente consumida pelo trabalho… Ali tudo parou. Eu entendi que precisava rever minhas prioridades, ter mais tempo para minha filha e para mim mesma. Um ano depois, após o final do tratamento, eu recomecei minha vida em todos os sentidos: saí da TV, escrevi um livro e comecei a me dedicar a projetos que tivessem propósito, inclusive a causa da prevenção do câncer de mama. Hoje, aos 47, me sinto mais realizada e mais feliz”, diz Daniella.

Mãe aos 40: vantagens e desvantagens

Cada vez mais as mulheres estão deixando a maternidade para mais tarde. Dados do último Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, apontam que entre 1998 e 2017, aumentou em 50% a taxa de mulheres que se tornaram mães entre os 40 e 44 anos. Números do IBGE comprovam o crescimento: de 1990 a 2017, houve um crescimento de 42% na quantidade de mulheres que tiveram filhos 40 anos ou mais. A publicitária Cris Guerra, que é mãe de Francisco, 12, acredita que as vantagens ou desvantagens de ser mãe na maturidade estão muito mais ligadas às circunstâncias do que à própria idade:

“Cada maternidade será única de qualquer forma, pois ela é determinada pelo conjunto das circunstâncias em que ocorre. Ser mãe aos 36, como foi o meu caso, tem coisas ótimas e outras engraçadas. Não temos mais a mesma vitalidade física. Mas posso dizer que, no meu caso, eu tinha a maturidade necessária, que talvez antes eu não tivesse. Acho que é ruim ter uma diferença de idade tão grande em relação ao meu filho. Por outro lado, ele me rejuvenesce muito. O fato de ter de olhar para a vida de novo, encará-la, re-significá-la, é um bom motivo para estar mais atualizada, ter um olhar positivo sobre as coisas e até um motivo nobre para pensar mais na minha saúde. É de certa forma uma responsabilidade que nos obriga a cuidar melhor de nós mesmas. Por outro lado, se eu tivesse sido mãe aos 20 anos, teria uma disposição física maior e teria maiores chances de ser avó, coisa que não sei se vou ter tempo de vivenciar – espero que sim! Tentei ser mãe alguns anos antes, em outras circunstâncias, e isso não aconteceu. Aprendi que a gente não controla isso e que cada maternidade acontece no seu tempo certo. Me sinto uma mãe feliz, da maneira como sou.”

Reprodução Instagram

4 conselhos para as mulheres de 40 anos ou mais aproveitarem a vida:

– Aproveite que você agora tem mais maturidade e sabedoria para compreender melhor o que você deseja para a sua vida.

– Simplifique as coisas, escolha melhor as batalhas pelas quais vale a pena lutar;

– Aproveite cada minuto e não gaste tempo com o que já passou. Cuide de você agora e assim estará fazendo o melhor pelo seu futuro, mas sem exageros.

– Procure se conhecer e se conectar consigo mesma – o importante é o que você sente e pensa, não o que os outros pensam de você. A vida que vale a pena é uma conquista sua, que vem de dentro.