Quando o assunto é reserva ovariana, é bem provável que você já saiba que após os 35 anos ela tende a cair, e isso está relacionado com mais dificuldades para engravidar. Mas será que baixa reserva ovariana é sinônimo de infertilidade? E como saber a quantas anda a sua reserva e o que deve ser feito no seu caso?
Foi para responder essas e outras perguntas que conversei com a ginecologista Fernanda Polisseni, especialista em reprodução humana, da Clínica Nidus, de Juiz de Fora (MG). Reuni aqui os principais momentos do nosso papo, que aconteceu numa live do Instagram Mãe aos 40, e espero que vocês gostem! E, claro: quem quiser assistir a entrevista completa, basta clicar aqui.
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Vamos então aos pontos mais importantes da conversa:
1. O que é, afinal, a reserva ovariana?
Para responder essa pergunta, é preciso falar sobre a produção inicial dos óvulos: quando estamos sendo geradas, temos um estoque de 5 a 6 milhões e óvulos, e antes mesmo de nascer, essa reserva já caiu para uns 2 milhões de óvulos, resultado de um processo natural do organismo, a morte celular programada. E é lá na puberdade, quando temos a primeira menstruação, que mais ou menos mil folículos passam a ser disponibilizados todos os meses para que apenas um deles consiga crescer, romper e ovular. Os outros 999 sofrem, mensalmente, desde a primeira menstruação a morte celular natural do organismo. E esse processo na mulher, ao contrário do homem (que tem uma renovação de espermatozoides a cada 70 dias), não pode ser barrado. Logo, uma mulher com 35 anos ou mais tem bem poucos óvulos e a tendência é que a qualidade deles caia com o passar dos anos. É por isso que a partir dos 35 anos começa a ficar mais difícil de a gravidez acontecer naturalmente e há mais chances de sofrer abortamentos, por exemplo.
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2. Como saber qual é a minha reserva ovariana?
Existem 3 formas de verificar a reserva ovariana, com exames de FSH, AMH e folículos antrais. Vamos entender cada uma delas:
- Dosagem de FSH é feita por meio do exame de sangue, no terceiro dia do ciclo. O estradiol precisa ser medido junto com o FSH porque se ele estiver elevado, ele bloqueia de alguma forma a elevação do FSH, podendo dar alteração no exame.
- Dosagem do hormônio antimulleriano (AMH) também é um exame de sangue, que pode ser feito em qualquer dia do ciclo. E quanto maior a dosagem do exame, maior o número de folículos, ou seja: a reserva ovariana.
- Contagem dos folículos antrais: esse ultrassom deve ser feito entre o 2º e 5º dia do ciclo e mostra um retrato fiel dos folículos, dando um panorama sobre a quantidade de óvulos disponíveis.
Tanto para a dosagem do FSH, estradiol e o AMH, o uso de anticoncepcional deve ser pausado por dois a três meses, já que o contraceptivo pode interferir reduzindo os números que irão aparecer no exame. Isso porque ele mantém os ovários em repouso.
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3. Descobri a reserva ovariana baixa: e agora?
Antes de falar sobre a baixa reserva ovariana, é necessário entender quando realmente a reserva pode ser preocupante. Baixa reserva não significa infertilidade! As coisas não são relacionadas. Nem todo mundo que tem baixa reserva vai ter problema para engravidar. Mas isso quer dizer sim que o tempo para programar a gravidez é menor. Então, é preciso ficar atenta. Se você tiver uma reserva já não tão alta, será que não vale a pena congelar, caso não queira no momento? E para quem já está tentando engravidar há algum tempo e viu que há a indicação de uma FIV, por exemplo, essa baixa serva indica que durante o tratamento haverá menos óvulos disponíveis na estimulação do que numa pessoa com uma reserva boa. Nesse caso, existem recursos específicos para melhorar a resposta ovariana, como o Duo Stim, que é o duplo estímulo dos ovários com medicamentos que usamos antes da indução. Aproveitando assim da melhor maneira possível essa reserva.
4. Baixa reserva ovariana é sinônimo de óvulo sem qualidade?
Nem sempre a baixa reserva ovariana indica que os óvulos têm pouca qualidade. Para exemplificar essa questão, vou usar uma metáfora: imagine uma cesta com 10 maçãs. As chances de eu encontrar pelo menos 5 maçãs boas é maior nessa cesta do que numa cesta que só tem 5 maçãs, certo? Com os óvulos acontece o mesmo: as chances de ter mais óvulos saudáveis no meio de muitos é maior do que se eu tiver poucos óvulos disponíveis. Então, é uma questão de proporção. Por isso que falamos em chances de gravidez dividindo por faixa etária. Uma mulher com menos de 30 anos tem 25% de chances de engravidar no primeiro mês de tentativa. Já uma de 40 anos tem entre 5% a 10% de chance de engravidar naturalmente no primeiro mês. Mas isso significa que a de 40 não vai engravidar? Claro que não! Significa que provavelmente ela vai precisar de mais oportunidade para conseguir a gravidez, ou seja: mais ovulações e mais tempo de tentativas. E aí é importante ficar de olho nesse tempo. Mas nunca se desesperar, achando que não vai dar certo!
5. Estilo de vida interfere na qualidade dos óvulos?
Se você imaginar que os óvulos estão com você desde o útero da sua mãe, até mesmo o que ela comeu e como ela viveu pode interferir também na qualidade dos seus óvulos! E se todas as células do corpo são impactadas pelo estilo de vida, é claro que com as células que formam os óvulos não seria diferente. Uso de medicamentos, cigarro, estresse… tudo isso pode mudar a forma molecular do óvulo, dificultando a gravidez. Manter um estilo de vida saudável, com exercícios físicos regulares, sono de qualidade e uma alimentação saudável, rica em vegetais, por outro lado, são bons aliados da fertilidade. Estudos mostram que o consumo de 3 a 4 porções de vegetais por dia, por exemplo, aumenta as chances de gravidez. Assim como reduzir a ingestão de alimentos ultraprocessados, cafeína e bebidas alcoólicas são atitudes que beneficiam não apenas os óvulos, como também os espermatozoides.
Também vale ficar de olho na suplementação de vitaminas, lançando mão da coenzima Q10, resveratrol e vitamina D, caso essa última esteja deficiente no organismo. Sabemos, por exemplo, que quando a vitamina D está baixa pode haver um resultado de exame antimulleriano baixo também.
Além desses fatores todos, vale também estar atenta ao histórico familiar de menopausa precoce, pois existe a tendência do problema ser hereditário. Então, saber com qual idade sua mãe parou de menstruar pode te dar pistas sobre até quando você irá menstruar também. Vale citar ainda a Síndrome do X Frágil, que é uma situação mais rara, mas que está relacionada com a falência ou insuficiência ovariana precoce. E ainda o tratamento do câncer, que consome a reserva ovariana. E temos visto câncer de mama cada vez mais em mulheres jovens. Mas o lado bom é que elas estão se curando mais e existe a possibilidade de fazer o congelamento de óvulos antes de iniciar o uso das medicações tóxicas para o ovário.
6. Quando recorrer à indução da ovulação?
Em duas situações: quando a mulher não ovula normalmente ou quando vai recorrer à FIV. No primeiro caso, o problema pode ser a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), podendo ser indicado o medicamento de uso oral, com acompanhamento médico, já que será necessário avaliar a dosagem e como está o endométrio. Vale ressaltar, porém, que muitas vezes, esse quadro da SOP pode ser revertido com alimentação saudável e exercícios físicos, caso não tenha nenhum outro fator de infertilidade associado. Já para as candidatas à inseminação ou FIV, o medicamento é injetável com LH e FSH (hormônios da hipófise), que vão estimular muitos folículos para aumentar as chances de óvulos que poderão se formar em embriões.
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