Você já deve ter ouvido os seguintes conselhos: “Não fica dando colo para esse menino, vai ficar mal acostumado.”, “Deixa ela chorar um pouco, senão vai ficar mimada.”, “Você não percebe que ela te manipula para conseguir o que quer?”.

Além de muito comuns, essas frases fazem com que a gente repense se quem botamos no mundo foi mesmo uma criança ou serial killer, especialista em chantagem emocional e manipulação. Se essa ideia alguma vez já passou pela sua cabeça, calma! Ele até pode estar querendo chamar a atenção, mas ser manipulador é outra coisa bem diferente. O que elas fazem é perceber como funciona a interação das pessoas com ela e, a partir disso, a criança utiliza dos recursos que possui e que sabe que irão funcionar para conseguir o que deseja. E o nome disso é inteligência emocional!

Aliás, já parou para pensar que você também se comporta de forma diferente com pessoas diferentes? E não há nada de errado nisso. Cada situação ou pessoa exige de nós um tipo de comportamento e saber se adaptar e aproveitar o melhor das mais diversas situações é uma virtude e não um defeito.

Vamos imaginar a seguinte cena:

Você está muito cansada e acabou de se deitar. Seu marido, deita ao seu lado e vocês percebem que a luz do quarto ficou acessa. Você quer muito que ele levante e apague a luz para você. É muito provável que a essa altura do casamento você já conheça inúmeras formas de persuadi-lo. Provavelmente você irá fazer o pedido da melhor maneira possível torcendo para que ele se sinta compelido em te atender. E se for bem sucedida na missão, irá utilizar essa mesma maneira de pedir nas próximas vezes que luz ficar acessa e você desejar que ele apague.

Assim também funciona com a criança!

Não dar colo e deixar chorar: assuntos polêmicos!

Vale abrir um parêntese aqui para explicar outras coisinhas importantes, que as pessoas costumam rotular como “perigosas”. Dar colo é a primeira delas. Seu filho não vai ficar mal acostumado por receber colo. Ele vai se sentir acolhido e atendido em sua necessidade de afeto. Deixar a criança chorando também não ajuda em nada. A explicação é que ninguém chora sem motivo, e mesmo que você não saiba o que motivou seu filho a abrir o berreiro, ou até saiba, mas considera que não é pra tanto, isso não quer dizer que de fato não tenha motivo. Pode até não ter pra você, mas na cabecinha da criança sim. Então tente se colocar sempre no lugar dela, mostrando que a compreende e explicando o porquê não concorda com a atitude que causou o choro, por exemplo.

Lembre-se que na maioria das vezes a criança pede o que deseja por meio do choro, da insistência, do ato de se jogar no chão… E se ela consegue, ela tenderá a repetir. Tenha em mente que seu filho (a) acabou de chegar no mundo. Faz menos de 10 anos que ele está aqui, e ainda tem muito que aprender. Pode ser mesmo que a única forma de pedir que ela conheça seja por meio do choro, da agressividade, da raiva. Você vai precisar ajudá-la a fazer pedidos de uma forma mais aceitável e menos estressante.

Vou dar alguns exemplos de como conversar com sua criança para ajuda-la a se expressar sem recorrer a estes recursos negativos, ok? Veja só:

Situação 1: Quando o pedido é possível de ser atendido e a criança já consegue falar:

Você: “Filha, quando você quer alguma coisa e chora para conseguir, a mamãe não sente vontade de atender seu pedido. Você pode tentar dizer com as palavras o que você deseja, em algum momento que a mamãe não esteja ocupada. Vamos tentar assim das próximas vezes?”

Nas próximas vezes você pode dizer que ela sabe que não gosta quando ela pede chorando e que é para ela tentar de novo, agora usando as palavras. E assim por diante até que a criança se expressar bem.

Situação 2: Quando o pedido não pode ser atendido (como a que acontece na loja de brinquedos):

Você: “Filho, estou vendo que você ficou chateado por que não vamos comprar esse brinquedo né? Você queria muito que a gente comprasse né? Hoje não será possível, vamos imaginar como que a gente ia brincar com esse brinquedo?”

E nessa você embarca na imaginação da criança. Vai falando para ela como você brincaria, conta para ela quando você era criança do que você brincava, o você faz quando quer muito uma coisa e não pode comprar. Conte a ela como você lida com a frustração. Certamente essa será uma ótima oportunidade para vocês trocarem experiências.

IMPORTANTE:

Não é pessoal! A criança não te desafia, não te manipula e não é um mini monstro… Geralmente, elas só estão tentando viver nesse mundo louco da melhor forma possível. Elas estão tentando ser felizes, da mesma forma que você está! Estamos todos no mesmo barco.

Ficou com alguma dúvida ou tem sugestões de temas para conversarmos aqui? Deixe seus comentários abaixo. Será um prazer interagir com você!

 

Letícia Gomes Gonçalves é psicóloga , educadora perinatal e consultora em criação com apego. Tem como missão de vida empoderar mulheres e mães, ajudando-as a se sentir mais seguras e realizadas. Escreve para o Blog Conversa Entre Marias e terá uma coluna com textos a cada 15 dias aqui.