O luto durante a gestação ou após ela ainda é visto por muitos como um tabu, pouco falado entre as mães que sofrem essa situação e pelos profissionais da saúde e familiares que, muitas vezes, não sabem lidar com as reações desencadeadas pela perda.
Mas é importante dizer que os pais que perdem um filho, seja ainda na barriga da mãe ou após o nascimento, sofrem uma desorganização emocional, pois a espera pelo filho idealizado acaba e entra em seu lugar sua morte. E mesmo que o casal enfrente essa barra juntos, para cada um o luto será sentido de um jeito. É comum ser um processo mais doloroso para as mães, principalmente devido à ligação materna que existiu durante a gestação.
Minimizar não é a solução
Estes lutos costumam ser considerados como “lutos não autorizado”, isto é, um tipo de luto que a sociedade miniminiza a dor e oferece pouco espaço e/ou permissão para que a dor seja expressada, o que acaba por dificultar a elaboração do enlutamento. Neste luto não autorizado, comumente escutamos frases como: “Mas tudo bem, você ainda é jovem e logo terá outro”, “você engravidará novamente rapidinho”… A perda de um filho é tida como uma das experiências mais dolorosas e coloca o indivíduo frente a sua impotência. Ela leva a uma ruptura da rotina, dos planos, expectativas. É como se a morte de um filho fosse sentida como a perda de um pedaço de si mesmo.
Conselhos para a mamãe que vivenciou o luto:
– Permita e autorize sua dor, choro e sentimentos, sejam eles quais forem.
– Respeite suas necessidades do momento e compreenda o processo de luto.
– Converse sobre o filho perdido e os sentimentos com pessoas que demonstrem amor, respeito que tolerem a dor e não façam julgamentos.
– Tenha paciência e compaixão com a própria dor.
– Espere sorrisos como sinal de memórias felizes e não se culpe em ter momentos de alegria.
– Não se sinta obrigada a tomar decisões como: “ o que fazer com o quarto?”, primeiro vivencie o luto para depois esperar que tais respostas venham.
– Não exite em pedir ajuda a um psicólogo, se necessário.
– Procure pessoas com as quais sinta-se muito bem e acolhida. Há diversos grupos de mães enlutadas que se encontram, dividem suas experiências e estratégias de enfrentamento.
– Acredite na reconciliação consigo mesmo.
– Promova rituais de despedida.
Para quem está junto com a mãe nessa fase:
– Não dê conselhos e diga frases comuns como: “foi melhor assim”, “já já passa”, “você ainda pode ter muitos outros filhos”, “mas ele nem tinha nascido ainda e você já está assim?
– Nunca minimize a dor e sofrimento do outro, nem tente impedir expressões dos sentimentos. Permita o choro e a raiva.
– Não faça julgamentos, nem tente dar a melhor resposta que irá tirar a dor do outro. Ofereça uma presença genuína e verdadeira com amor, tolerância e aceitação.
– Observe até onde vai seu limite em aguentar a dor do outro.
– Não determine um tempo para o processo de luto do outro, nem estimule que ela saia logo dessa fase.
– Compreenda que sua presença para o enlutado pode ser valiosa e que o falar pode ser limitado, ofereça mais acolhimento, silêncio, apoio, escuta e carinho.
– Incentive o enlutado a procurar outras pessoas para dividir suas experiências.
– Pergunte no que pode ser útil na ajuda da rotina (ir ao mercado, lavor uma roupa, fazer algum pagamento de conta?)
Também vale ler um pouco mais sobre o assunto. Uma dica de leitura que damos é o livro “Até Breve José”, de Camila Goytacaz, que perdeu o filho 11 dias após seu nascimento, na UTI neonatal.
Luciana Romano e Raquel Benazzi são psicólogas formadas pela Universidade Mackenzie, e integram o Núcleo Corujas. Elas têm experiência no trabalho com gestantes, psicoterapia de luto e trabalho de defesa da mulher.