– “Você optou por que tipo de parto?”
– “Cesárea”, respondeu a moça, meio desconsolada.
– “Ah, é? Você também tem pavor de sentir dores?”, perguntei.
– “Não. É que meu primeiro filho nasceu de cesariana, então não dá mais para ter normal”, disse ela.
Quem nunca se deparou com o diálogo acima? Confesso que eu não entendia muito o motivo dessa resposta. Até ficar grávida e começar a pesquisar sobre os diferentes tipos de parto. No entanto, há casos e casos, e cabe ao médico avaliar a mãe para saber se ela está preparada para um parto normal, que diga-se de passagem, é possível sim após uma cesariana. Aliás, a apresentadora Mariana Ferrão, do programa Bem Estar, da TV Globo, que o diga. Ela teve uma cesárea e agora um parto via vaginal, conhecido como VBAC (Vaginal Birth After Cesarean). Após compartilhar o seu relato de parto no Facebook e Instagram, a mamãe de Miguel (2 anos) e do recém-nascido João, emocionou muita gente. Inclusive eu!
Tudo certo então! Afinal, se ela conseguiu outras mães também conseguem, não é mesmo? Em partes sim, mas como já falei acima, cada caso é um caso e precisa ser analisado. Sobre os riscos, perguntei ao ginecologista e obstetra Domingos Mantelli, de São Paulo. E vejam a resposta: “Durante o trabalho de parto há sim o risco de romper o útero no lugar da cicatriz anterior. Mas o risco é muito pequeno quando só tem uma cesárea anterior. Além disso, quanto mais tempo tiver dessa primeira cesárea pro próximo parto o risco vai diminuindo. Agora, com duas ou mais cesarianas o risco já é muito grande”, disse o médico.
Sobre o tempo de espera entre um parto cesariana e outro normal (veja bem é entre o parto e não entre uma gravidez e outra, ok?) geralmente é preciso ter um intervalo de 2 anos (foi o caso da apresentadora).
Outro ponto que precisa ficar claro é em relação à indução do parto, que é uma prática comum nos hospitais: “Se a mulher tem uma cesárea anterior não há indicação de você induzir o parto porque isso é feito com comprimido de misoprostol, que leva a contrações extremamente fortes, muitas vezes saindo do controle. Dessa forma, a cicatriz no útero pode vir a se romper. Já se a mulher não tem uma cicatriz anterior, quando for feita a indução, mesmo que saia do controle e as contrações fiquem muito excessivas, partimos muitas vezes até para uma cesariana para evitar que o bebê entre em sofrimento, porém não vai ter o risco dessa ruptura do útero”, esclarece o Dr. Domingos.
Por fim, outro grande medo para a indicação de parto vaginal depois de uma cesárea é o tamanho do bebê e a largura da bacia da mãe. Mas o médico explica que o peso do bebê (maior de 3.5 kg) não é um limitante para o parto normal. Já a bacia da mulher deve comportar o bebê, sendo que o diagnóstico de desproporção cefalopélvica, que é exatamente isso da cabeça do bebê não passar pela pelve da mãe, é feito durante o trabalho de parto. Antes desse momento dificilmente o médico vai poder dizer alguma coisa a esse respeito. Mas, é plenamente possível um parto normal com bebês acima de três quilos e meio, sem nenhum problema.
Espero ter ajudado vocês a esclarecer as dúvidas sobre o parto via vaginal depois de uma cesárea. E se tiverem mais alguma pergunta, enviem para nós nos comentários. Será um prazer responder!