Não é novidade que mulheres acima dos 40 anos têm uma redução do potencial da fertilidade quando comparadas a mulheres mais jovens e, consequentemente, têm também uma chance menor de sucesso nos tratamentos de fertilização. Mas, o ponto obscuro é: qual o limite de idade da mulher para o tratamento de FIV com os próprios óvulos? A partir de qual idade é recomendável utilizar óvulos de doadoras? A grande maioria dos insucessos nos tratamentos em mulheres acima desta idade é a qualidade dos óvulos que elas produzem, por formarem embriões de má qualidade. Em outras palavras, os óvulos destas mulheres tendem a formar embriões com alterações cromossômicas inadequados para a implantação. Se isso acontecer, a paciente poderá sofrer abortos ou, em alguns casos, se a gestação se desenvolver, os bebês poderão ter alterações, como por exemplo, Síndrome de Down.
Mas se conseguirmos um número maior de óvulos, poderemos ter uma chance maior de obter embriões de ótima qualidade e, consequentemente, um tratamento bem sucedido e filhos saudáveis. Para se definir o melhor protocolo para a estimulação ovariana é importante a compreensão do significado: “Individualização e Customização”. Individualizar significa personalizar ou adequar um tratamento para um determinado casal ou, especificamente, para uma mulher. Já customizar significa alterar algo para que melhor se adeque os requisitos de alguém.
Desenvolvimento e maturidade dos óvulos
Para qualquer organismo atingir um estado ideal de maturação (amadurecimento) deve primeiro passar por pleno crescimento e desenvolvimento. Um fruto colhido de uma árvore antes de ter se desenvolvido totalmente, ou pouco desenvolvido, ainda pode amadurecer na prateleira e até parecer tão atraente como aquele que teve um desenvolvimento adequado, entretanto, não terá a mesma qualidade. Os mesmos princípios se aplicam para o desenvolvimento e maturação dos óvulos da mulher. Um desenvolvimento adequado, bem como o sincronismo preciso desde o início da maturação dos óvulos com os hormônios adequados é essencial para se conseguir um óvulo ideal, uma boa fertilização, um ótimo embrião e, finalmente, a gravidez. Na verdade, nos casos em que a maturação dos óvulos não é devidamente sincronizada, há um aumento do risco de aneuploidia (anormalidades cromossômicas estruturais e numéricas), levando ao comprometimento do desempenho reprodutivo.
O potencial dos óvulos de uma mulher de sofrerem maturação ordenada, fertilização bem sucedida, e posterior progressão para “embriões de boa qualidade”, que são capazes de produzir um bebê saudável, é em grande parte determinado geneticamente. No entanto, a expressão do potencial reprodutivo é influenciada por numerosas variáveis extrínsecas no ovário e endométrio durante a fase pré-ovulatória do ciclo, principalmente nos casos de mulheres baixas respondedoras e maduras, os ovários acompanham o envelhecimento, independente da aparência jovial de cada uma. Nesses casos, os protocolos de estimulação precisam ser personalizados para atender às necessidades individuais. Tudo o que podemos fazer é evitar comprometer o ambiente de ovário durante a estimulação ovariana e, assim, evitar mais prejuízo a qualidade do óvulo.
Eu, como médico especialista em reprodução assistida, individualizo e customizo o protocolo de estimulação nas pacientes que serão submetidas à Fertilização in Vitro porque entendo que o ambiente hormonal em que o óvulo se desenvolve é fundamental para sua qualidade e, consequentemente, à formação de um embrião saudável, principalmente em mulheres maduras. A ciência não para de progredir e estamos sempre a postos para aplicar novos tratamentos que preservem ou melhorem a fertilidade das mulheres como um recente trabalho científico apresentado no Canadá em que se “rejuvenesce” os óvulos pelo transplante de mitocôndrias da paciente para si própria, porém, isso ainda é considerado experimental. Em breve escreverei mais sobre este assunto.
Este artigo foi escrito pelo ginecologista e obstetra Arnaldo Schizzi Cambiaghi, diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, especialista em medicina reprodutiva. O especialista é autor de diversos livros, como Fertilidade Natural, Grávida Feliz, Obstetra Feliz e Fertilização um ato de amor.